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A Contemporaneidade E a Mulher

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Words 7373
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Trabalho de Pesquisa Bibliográfica Disciplina de História da Europa Contemporânea Docente: Prof. Manuel Loff

19 de dezembro de 2011

A CONTEMPORANEIDADE E A MULHER

Em que medida os tumultos económicos, sociais e culturais vividos na Europa Ocidental contribuíram para a evolução do papel da mulher na sociedade, desde a Revolução Industrial até ao pós-I Guerra Mundial?
| Mafalda Roxo;nº090716046;Línguas e Relações Internacionais

Índice
1 2 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 3 A Contemporaneidade: o rastilho para a emancipação da Mulher.............. 4 2.1 O Iluminismo e a Revolução Francesa - as suas consequências para a Mulher ................................................................................................................................. 4 2.2 A Revolução Industrial, o urbanismo e a transição demográfica – que consequências? ........................................................................................................... 5 2.3 2.4 O papel das ideologias liberais e socialistas na libertação da mulher 5 A importância do século XIX .............................................................................. 6 Ao nível laboral ................................................................................................ 7 Ao nível da educação .................................................................................... 7 Esfera Privada Vs. Esfera Pública ............................................................. 8 A revolução científica, a sexualidade e a psique humana .............. 8

2.4.1 2.4.2 2.4.3 2.4.4

2.5 A influência do Imperialismo e do Nacionalismo “fin de siècle” na mentalidade feminina ..................................................................................................... 10 2.6 O Sufrágio ............................................................................................................... 10 Feminismo, Sufragistas e Suffragettes ................................................ 10

2.6.1 3

“A I Guerra Mundial: Uma espécie de 1789 para as Mulheres” ................. 12 3.1 A Mulher e a I Guerra Mundial ........................................................................ 12

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O período entre guerras: época de grandes mudanças ................................ 13 4.1 Uma luta em estado latente ............................................................................. 13

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Conclusão ........................................................................................................................ 14 Notas Metodológicas .................................................................................................... 15 Bibliografia e Webgrafia ............................................................................................. 16

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1 INTRODUÇÃO
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“O exercício da liberdade é uma dura aprendizagem”2 As revoluções vividas no final do século XVIII foram o rastilho de uma sucessão de acontecimentos que mudaram a História da Europa e do Mundo de uma forma irrevogável. Como nos mostra Eric Hobsbawm ao longo dos trinta anos em que escreve a coletânea das quatro Eras (Revoluções, Capital, Império e Extremos), o mundo viveu experiências que alteraram o curso dos acontecimentos para sempre. Tendo em conta estes livros de leitura obrigatória para alguém que queira compreender minimamente este período, decidi explorar um tema, que tem vindo a registar um crescente número de entusiastas. Refiro-me, obviamente ao papel da mulher na sociedade, como é que esta se foi adaptando às mudanças, quais as suas lutas e em que medida foi favorecida, ou não, tendo sempre em mente o papel desempenhado por personalidades como Hildegard de Bingen (freira do séc.XII, que ficou para a História com a célebre afirmação: “woman may be made from man, but no man can be made without a woman”3), Christine de Pizan (séc.XIV-XV, imortalizada pela forma como assumiu o sustento da sua família4); e mais tarde, séc.XVIII, Mary Astell, com a célebre frase: “If all Men are born free, how is it that all Women are born Slaves?5”. Concretamente, ao longo deste trabalho, ocupar-me-ei em responder a estas questões, através de uma análise cronológica/acontecimentos-chave que, ao contrário do que se poderia imaginar, não espero que me leve a uma conclusão concreta, mas sim a uma visão geral dos factos, satisfazendo assim, a minha curiosidade sobre um tema que desde sempre me suscitou interesse, não só por motivos de identificação de género, como também devido à sucessão de acontecimentos vividos um pouco por todo o globo, no que toca aos Direitos das Mulheres. Assim, neste trabalho, parto do Iluminismo e da Revolução Francesa, à qual se segue a Industrial, a urbanização e transição demográfica; uma análise geral do séc.XIX focando certos pontos de interesse; o sufrágio; analiso em que medida o nacionalismo e imperialismo do fim de séc. influenciaram a Mulher; a I Guerra Mundial e as suas consequências, terminando no período do entre guerras. Este trabalho não tem como objetivo, nem jamais teria a pretensão de criar conhecimento histórico. Simplesmente pretendo compreender a relação entre dois temas que me interessam, que são a época contemporânea na Europa Ocidental e a História da Mulher: a forma como estes se entrecruzam.

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CHAPSAL, Marion; “A Public Man? A Powerful Guy! A Public Woman? A Prostitute!” http://geronimocoachingnow.com/wp-content/uploads/2011/11/Michelle_Perrot_photo_m1.jpg; consultado a 07/12/2011; última modificação a 07/11/2011 2 PERROT, Michelle; “Introdução” in FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle (dirs.); O século XIX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume IV; Tradução portuguesa; Porto; 1994; p.501 3 MADIGAN, Shawn; Mystics, Visionaries and Prophets: A Historical Anthology of Women’s Spiritual Writings; Augsburg Fortress; Minnesota; 1998; p.96 in “Hildegard of Bingen” http://en.wikipedia.org/wiki/Hildegard_of_Bingen; (06/10/2011) 4 “Christine de Pizan” - http://en.wikipedia.org/wiki/Christine_de_Pizan; (14/10/2011) 5 ASTELL, Mary; Some Reflections on Marriage;London; 1700 in “Mary Astell”http://en.wikipedia.org/wiki/Mary_Astell; (16/11/2011)

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2 A Contemporaneidade: o rastilho para a emancipação da Mulher
2.1 O Iluminismo e a Revolução Francesa - as suas consequências para a Mulher
O Iluminismo sem dúvida que representou um, senão o, ponto de viragem da mentalidade da Humanidade, trazendo consigo toda uma série de novidades até então desconhecidas, das quais se destaca a “promesa de derechos universales, (…) una nueva definición de esos derechos en términos de género y de raza”6, a qual tem implícita uma mudança radical dos ideais até então defendidos. Esta promessa trouxe à discussão diversas teses, como a de Rousseau, que acreditava que as mulheres eram desprovidas de Razão, devendo, como tal, obedecer aos homens. Foram ideias destas que fizeram com que surgissem teses opostas, tais como a de Diderot, que defendia a clareza e encanto dos discursos das mulheres. Não obstante existirem defensores, foram teses como estas que vingaram na sociedade francesa do séc.XVIII (cf. CAINE; SLUGA: 2000, pp.27-8). Tudo isto, juntamente com as alterações socioeconómicas da época fizeram com que, em França, se desse uma das mais importantes revoluções da História, à qual as mulheres não ficaram à margem. Passou-se assim, a associar as mulheres a movimentos revolucionários/insurretos aí vivenciados, ex. a 5 de outubro foram as mulheres que avançaram até Versalhes para ir buscar o rei, e mais tarde foram as impulsionadoras dos levantamentos na primavera de 1795. Como relata um polícia da época: “São sobretudo as mulheres que se agitam e fazem passar toda a sua excitação ao espírito dos homens ”7. As mulheres passaram também a ser conotadas com a ideia de devassidão, não obstante serem cruciais em tarefas ao nível da comunidade e da economia (cf. op. cit. pp.31-2). A partir de 1789, a condição da mulher mudou e como afirma E. Sledziewski, não foi só devido ao Iluminismo, ou à Revolução em si, mas também porque esta última “levantou a questão das mulheres e inscreveu-a no próprio coração da sua questionação política da sociedade.”8. A mulher passou a reivindicar um lugar na sociedade, inclusive envolvimento direto na vida política (cf. CAINE: 1997, p.11), tendo sido criadas leis referentes ao estado civil, i.e., as leis que introduziram o casamento civil e o divórcio. É também neste contexto que surge Olympe de Gauges com a Déclaration des droits de la femme et de le citoyenne9 de setembro de 1791 onde defendia que a mulher deveria ser considerada cidadã, tal como o homem. Em 1892 surge também em Inglaterra a figura de Mary Wollstonecraft que, com a sua obra A Vindication of the Rights of Woman10, arguia em torno da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres (cf. HANNAM: 2007, pp.20-1). Com o 8 de Brumário a mulher viu o seu associativismo proibido, e voltou-se novamente para o lar. Em 1804, com o Código Civil napoleónico, restabeleceram-se as ideias do Antigo Regime, no que toca os direitos das mulheres, ficando definitivamente subordinadas aos seus maridos (cf. CAINE;SLUGA: 2000, p.38-9), devendo propagar as virtudes da República, realidade que se expandiu pela Europa.
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CAINE, Barbara; SLUGA, Glenda; Género e História: Mujeres en el cambio sociocultural europeo de 1789 a 1920; Tradução espanhola; NARCEA, S.A. DE EDICIONES; Madrid; 2000; p.15 7 GODINEAU, Dominique; “Filhas da liberdade e cidadãs revolucionárias” in FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle (dirs.); O século XIX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume IV; Tr. Port.; Edições Afrontamento; Porto; 1994; p.23 8 Cf. SLEDZIEWSKI, Élisabeth G.; “Revolução Francesa. A viragem” in FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle (dirs.); O século XIX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume IV; Tr. Port.; Edições Afrontamento; Porto; 1994; p.41 9 Título de obra 10 Idem

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Em suma, pode-se afirmar, com algum grau de consenso, que a Revolução Francesa foi o marco na emancipação da mulher, acendendo o rastilho para as lutas durante o longo séc. XIX de E. Hobsbawm (cf. op. cit. pp.40-1).

2.2 A Revolução Industrial, o urbanismo e a transição demográfica – que consequências?
A Revolução Industrial iniciada em Inglaterra em finais do séc. XVIII, trouxe grandes mudanças ao nível da divisão de tarefas, passando o homem a estar ligado à fábrica, e a mulher ao lar. Esta divisão de tarefas por género fez com que a mulher tivesse maior dificuldade em encontrar emprego, devido às jornadas contínuas de trabalho, passando a refugiar-se em trabalhos que lhe permitissem não descurar o lar (cf. CAINE;SLUGA: 2000, pp.49, 50). Em suma, esta Revolução veio acentuar ainda mais a divisão entre homem e mulher e esfera pública e privada. A este fenómeno junta-se o urbanismo, nomeadamente, o fenómeno da criação de uma classe média urbana muito influente (em virtude dos lucros oriundos da atividade comercial e industrial, e dos direitos que lhes foram atribuídos pela Revolução Francesa). Foi da classe média urbana onde se recrutaram a maioria das feministas, uma vez que estas viram o seu bem-estar aumentar, o qual não foi acompanhado de novos direitos e liberdades, visto que o normal era, o burguês que ascendia a gentleman11, sustentar a mulher e as filhas. Como tal, surgiu no seio destas classes, um novo paradigma: a mulher deveria voltar-se para a família, agora composta por pais e filhos, e deveria dar toda uma ênfase a algo até então impensável: a amamentação, que foi um dos fatores determinantes na transição demográfica que se vivenciou nesta época, refletindo-se num decréscimo da mortalidade geral, sobretudo da infantil; e uma diminuição da natalidade. (cf. CAINE: 1997, pp.14-5) É assim, com a retirada da mulher da cena pública, que esta ganha algum poder na esfera privada, i.e., passa a ser responsável pela educação dos filho e conselheira dos seus maridos, o que lhe aumentou o contacto com a comunidade. Abandona a imagem de devassa da Revolução Francesa e passa a ser conotada com a integridade, heroísmo, etc. (cf. op. cit. p.16).

2.3 O papel das ideologias liberais e socialistas na libertação da mulher
No respeitante ao liberalismo, temos que ter em mente: “La estrecha relación entre el liberalismo económico y el político”, só assim, se pode compreender a sua relação com a mulher, i.e., só assim, se pode compreender a relação de subordinação que a mulher tinha para com o homem, estipulada pela Constituição Francesa pós queda de Napoleão. É errada a conceção de que o feminismo se identificava com o liberalismo; muito pelo contrário, “Many of those who (…) espoused liberal ideas and beliefs found (…) that their liberalism and their feminism came into a conflict”12, e isto deve-se ao facto do liberalismo não ter mecanismo de integração das diferenças de género, nem de análise da opressão sexual (cf. CAINE: 1997, pp.103). Um bom exemplo deste conflito é a choque de ideias entre Stuart Mill e MIllicent Fawcett e outras feministas (cf. op. cit. pp.104-10), pois enquanto Mill defendia a igualdade biológica entre ambos os sexos, e “criticized marriage as a form of slavery for women, but did not challenge the sex division of the labour and assumed that women with young children would remain (…) the home.”13; Mill foi ainda mais longe, dizendo que a falta de habilidade das mulheres para a vida pública era devido ao facto de estas viverem para o lar, enquanto as feministas defendiam que era exatamente o facto de serem gestoras/economistas do lar que lhes traria vantagem competitiva em relação ao homem (cf. HANNAM: 2007, pp. 39,40). Pode11 12

Estrangeirismo CAINE, Barbara; English Feminism: 1780-1980; Oxford University Press, Somerset; 1997; p. 103 13 HANNAM, June; Feminism (Short Histories of Big Ideas); Pearson Education Limited, London; 2007; p. 40

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se ver o limite desta luta entre espaço público e privado, liberais e feministas, com o exemplo dado pela Rainha Vitória que “se presentaba a sí misma ante sus súbditos como esposa y madre, fiel seguidora de los consejos ante de su marido (…) evitó las apariciones públicas y permaneció dentro del ámbito doméstico”14. Como contra exemplo temos a participação das mulheres em decisões económicas (ex. “contribuyeron al estabelecimiento del liberalismo económico como política nacional”15) Nos anos 20 e 30 do séc.XIX surge Fourier e Saint-Simon, dois ilustres Socialistas Utópicos, que defendiam ativamente a emancipação da mulher, sendo que Fourier ia mais longe, ao afirmar que “the degree to which women were emancipated provided a measure of how far general emancipation had been achieved”16. Ambos defendiam que a sociedade ideal seria aquela onde reinasse a igualdade total. Estavam envolvidos num movimento defensor de mudança na posição social da mulher. Fourier acreditava também no “potencial liberador de la ciencia, que desarrollaría aparatos para ahorrar trabajo en cocinas, lavanderías, etc.”17, i.e., no reorganizar do trabalho doméstico, potenciando o trabalho produtivo. Para Saint-Simon, a mulher era o símbolo da mudança (cf. CAINE;SLUGA: 2000; p.90) No que toca a relação entre a mulher e o Socialismo, vemos também uma relação semelhante à de amor-ódio que se estabeleceu com o liberalismo. Surge o líder do SPD alemão, A. Bebel que afirma que a mulher é economicamente dependente do homem, o que é uma desvantagem numa sociedade capitalista; que a diferença entre os dois sexos é baseada na História e não na Biologia (cf. SOWERWINE in HANNAM: 2007 p.41) e, ao aplicar critérios económicos para uma divisão de classes, defende que “women would only gain emancipation if they worked alongside men to achieve a socialist society”18 (cf. HUNT in HANNAM: 2007 p.41). Por defender o primado da classe permitiu que os socialistas marginalizassem os assuntos relacionados com as mulheres. É importante frisar o choque entre as diferentes correntes ideológicas e as feministas, pois enquanto as primeiras defendiam a diferença entre a esfera privada do lar e a esfera pública do mundo laboral, as segundas não (cf. HANNAM: 2007 pp.41-2). Criou-se uma ligação intrínseca entre o movimento de emancipação da mulher e a defesa dos direitos das trabalhadoras (vendo nesta união uma forma de lutar pela redução do n.º de horas de trabalho e baixos salários). Assim, em Inglaterra, este ficou associado ao Socialismo de M. Owen e, mais tarde, ao movimento Cartista, que após a sua queda deu origem a uma sociedade defensora do sufrágio feminino em Sheffield. Em França temos Jeanne Deroin que apelava para que as mulheres participassem na vida pública, para assim, se reunirem condições na criação de uma nova sociedade. Na Alemanha temos o caso de Louise Otto, que defendia um papel ativo da mulher na construção da nação alemã. (cf. op. cit. pp.27-8)

2.4 A importância do século XIX
É errada a conceção de que o séc. XIX foi somente uma altura de “ longa dominação, de uma absoluta submissão das mulheres. De facto, esse século assinala o nascimento do feminismo, (…) como o aparecimento coletivo das mulheres na cena política.”19.

CAINE, Barbara; SLUGA, Glenda; Género e História: Mujeres en el cambio sociocultural europeo de 1789 a 1920; Tr. Esp.; NARCEA, S.A. DE EDICIONES; Madrid; 2000; p.86 15 Ibid. 16 HANNAM, June; Feminism (Short Histories of Big Ideas); Pearson Education Limited, London; 2007; p.26 (a obra não diz a fonte) 17 CAINE, Barbara; SLUGA, Glenda; Género e História: Mujeres en el cambio sociocultural europeo de 1789 a 1920; Tr. Esp.; NARCEA, S.A. DE EDICIONES; Madrid; 2000; p.89 18 HANNAM, June; Feminism (Short Histories of Big Ideas); Pearson Education Limited, London; 2007; p.41 19 FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle; “Introdução: Ordens e Liberdades” in FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle (dirs.); O século XIX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume IV; Tr. Port.; Edições Afrontamento; Porto; 1994; p.9

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2.4.1

Ao nível laboral

“la principal razón por la que se identificaba el ámbito doméstico con lo femenino era la concepción del mundo del trabajo como masculino”20. Uma das grandes preocupações do séc.XIX ao nível laboral não era o facto de a mulher passar a trabalhar fora de casa: “a localização do trabalho em casa podia ser tão perturbadora para a vida familiar como a ausência da mãe durante o dia; mas eram sobretudo os salários tão (…) baixos, e não o trabalho em si que causavam perturbação.”21. Na verdade, a mulher já estava habituada às árduas tarefas da vida do campo, onde trabalhava de igual para igual com os homens. Era sim, o salário que causava estranheza, pois enquanto ao homem era pago um salário para sustentar uma família, à mulher pagava-se um salário para gastar em algo supérfluo que não fosse providenciado pelo homem. Outro fator que abalou a ordem pré-estabelecida foi a passagem de um serviço doméstico para “empregos de colarinho branco”22 (ex. professoras, enfermeiras, etc.), verificada nas mulheres pertencentes à classe média. Foi esta mudança que, na opinião de Joan Scott, suscitou a “afirmação de que a perda do trabalho com base no lar comprometia as competências domésticas da mulher e as suas responsabilidades reprodutoras.”23. No caso das indústrias, a mulher só passou a ser gradualmente contratada com o avançar da modernização das máquinas, possibilitando assim, uma diminuição dos custos fixos da empresa. Acresce mencionar que foi nesta época que formalmente foi criada a divisão de trabalhos por sexos, onde as mulheres eram contratadas para realizarem “trabalho de mulher”24. A mulheroperária era também mal vista pois era conotada com a exploração e promiscuidade sexual, e situações que muitas vezes levavam à prostituição das mesmas (cf. CAINE;SLUGA: 2000; p.69) A questão laboral nos finais do séc. XIX levou à criação de diversos movimentos, que até certo ponto eram convergentes, na medida em que as suas impulsionadoras, oriundas da classe média, demonstravam preocupação com as mulheres da classe operária. De facto, a agitação provocada pelas trade unions25 foi, até certo ponto, bem aceite pelas mid-Victorian feminists26, na medida em que era necessário zelar pelo bem-estar das trabalhadoras mas, membros como Fawcett entraram em choque ideológico com as novas feministas como Beatrice Webb (cf. CAINE: 1997; pp.149-51). 2.4.2 Ao nível da educação

De acordo com Françoise Mayeur, não se registam grandes alterações ao nível da educação, do séc.XIX. Distingue-se modelos, e práticas de educação (sendo que as últimas estão ligadas ao profano). Regista-se em países como a França, Bélgica e Suíça um ensino primário em regime misto, mas com conteúdos diferentes. Era pressuposto que a Revolução Francesa tivesse imposto um ensino laico (através do fecho de conventos, onde as raparigas estudavam), mas tal não aconteceu de imediato, verificando-se resistências em países como Espanha e Itália (presas à Igreja Católica) e Alemanha e Grã-Bretanha com uma realidade diferente dos demais países. Na França associa-se o ensino feminino laico à escola pública e, consequentemente, implica a intervenção dos poderes público-políticos.

CAINE, Barbara; SLUGA, Glenda; Género e História: Mujeres en el cambio sociocultural europeo de 1789 a 1920; Tr. Esp.; NARCEA, S.A. DE EDICIONES; Madrid; 2000; p.59 21 SCOTT, Joan W.; “A mulher trabalhadora” in FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle (dirs.); O século XIX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume IV; Tr. Port.; Edições Afrontamento; Porto; 1994; pp.451 22 Op. cit. p.452 23 Ibid 24 Op. cit. p.454 25 Estrangeirismo 26 Idem

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Quanto aos seus fundamentos, a educação feminina, enquanto resultado da Revolução Francesa, tinha por base os ideais de Rousseau, logo esta foi negligenciada. De facto, as raparigas recebiam uma educação voltada para o lar, e não para a vida política, visto não poderem experimentá-la. Assim, após aprenderem o essencial na escola pública, passava a ser tarefa da mãe, prepará-las para a gestão do lar. Este modelo laico de educação, na verdade, não foi o melhor, devido à oposição do clero, e o facto de nem todos os países terem seguido o modelo francês. Foi só com a Revolução de 1848, e com o apoio de seguidores Socialistas Utópicos, que realmente se tentou separar o ensino religioso do laico, criando-se as primeiras escolas profissionais nos década de 1860. Mesmo com estes avanços as mulheres viam restringido o acesso a disciplinas como “o latim e a filosofia, bem como as disciplinas científicas”27(cf. MAYEUR, Françoise; “A educação das raparigas: o modelo laico” in FRAISSE: 1994; pp.277-86). Em suma, como afirma Hobsbawm, o n.º de estabelecimentos de ensino para raparigas aumentou, sobretudo em países como França e Grã-Bretanha e em menor grau na Suécia, Bélgica, Holanda e Suíça. Quanto ao ensino superior os valores são muito reduzidos (cf. HOBSBAWM: 2010, pp.203-4). 2.4.3 Esfera Privada Vs. Esfera Pública

Neste ponto, enfatiza-se o que tenho vindo a constatar ao longo deste capítulo, i.e. verificase uma separação entre a vida privada e pública das mulheres, sendo que a primeira prende-se com o lar e a família e a segunda com a vida profissional. Para Hannam, o Iluminismo (sobretudo os ideais de Rousseau), a Industrialização, a Urbanização, todos estes factos levaram a um “emphasis on women’s domestic role”28 e à criação dos dois planos acima mencionados, não obstante “There was no hard and fast dividing line between the public and the private”29 (a teoria das esferas, é da autoria de Ruskin [cf. MAYEUR in FRAISSE: 1994, p.503]). A casa podia ela mesma tornar-se num local de discussão política, na medida em que aí aconteciam discussões informais. Porém, “Waged work took place away from the family and became identified with men and masculinity”. No caso das classes médias, o facto de a mulher não trabalhar era visto como um traço distintivo de superioridade, mas caso esta necessitasse teria entraves pelo facto de não ter estudos. (cf. HANNAM: 2007; pp. 22-5). Este fenómeno verifica-se sobretudo nas classes médias, pois como afirma Caine “Las paradojas existentes en torno a este modelo de vida familiar incluían la concepción de éste como un ámbito privado. La idea de «lo privado», del hogar como un refugio apartado a resguardo de ojos curiosos, era básica en el ideal de hogar de la clase media”30(cf. CAINE;SLUGA: 2000; p.57). 2.4.4 A revolução científica, a sexualidade e a psique humana

Não se pode abordar este tema sem falar da “sociedade de massas” que se desenvolveu no séc. XIX. Esta foi analisada, por G. Le Bon que afirmava que “la vida urbana se caracterizaba por la aparición de la masa, que mostraba un alto nivel de credulidad, irracionalidad e inestabilidad emocional características (…) específicamente femeninas”31. No que toca a sexualidade, esta foi alvo de grande exploração sendo que “Los defensores de estas nuevas ciencias afirmaban que la sexualidade moldeaba la identidade individiual y

MAYEUR, Françoise; “A educação das raparigas: o modelo laico” in FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle (dirs.); O século XIX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume IV; Tr. Port.; Edições Afrontamento; Porto; 1994; p.286 28 HANNAM, June; Feminism (Short Histories of Big Ideas); Pearson Education Limited, London; 2007; p.23 29 op. cit.p.24 30 CAINE, Barbara; SLUGA, Glenda; Género e História: Mujeres en el cambio sociocultural europeo de 1789 a 1920; Tr. Esp.; NARCEA, S.A. DE EDICIONES; Madrid; 2000; p.57 31 op cit. p.145

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que era la razón fundamental de los desordenes emocionales y mentales.”32. Esta exploração deveu-se sobretudo à grande queda da natalidade. Se no início do séc. tínhamos filósofos, agora tínhamos “doctores, psicólogos, sexólogos y psicoanalistas por un lado, abogados (…), por otro”33. Foi nesta época que se desenvolveu ao máximo a preocupação com a sexualidade feminina e surgiu o termo homossexualidade (1869), e a complexa taxonomia criada por Karl Ulrichs (cf. CAINE;SLUGA: 2000, pp.153-4). Desenvolve-se tabém o raciocinio freudiano: “que aseguraba que el silencio sobre cuestiones sexuales, que era costumbre en los hogares de la clase media, daba por supuesta la inocencia e ignorancia de las jóvenes sobre estas cuestiones, pero esto era al mismo tiempo falso y peligroso, pues las jóvenes tenían poderosos deseos sexuales”34. Com o apogeu do Imperialismo europeu, e consequente eurocentrismo, muitos ilustres, nomeadamente nas áreas da Sociologia e Medicina demonstravam preocupações sobre se este estava a ser acompanhado por um igual desenvolvimento do intelecto e da moral. Verificou-se a catalogação das pessoas por doenças mentais e “patologías sexuales”35. Surge aqui uma das teorias mais negras da medicina, defendida não só pelo psiquiatra B.Morel, como também por E. Zola: “la degeneración era consecuencia de la reproducción de los individuos enfermos y la transmisión de sus enfermedades o discapacidades hereditarias”36. Pode-se considerar os finais do séc. XIX como a “histeria das fobias e manias”, tendo sido diagnosticadas uma panóplia delas. Gera-se também a pior das confusões científicas, pois mesclam-se patologias médicas com comportamentos/opções sociais (cf. CAINE;SLUGA: 2000, pp.147-8). Mentes brilhante como as de Le Bon e M. Nordau dividem a tipologia de doença por géneros, assim, “el nervosismo, la neurastenia, y el exceso de emoción e histeria eran consideradas femeninas”37. Caso as mulheres saíssem para a esfera pública, os homens seriam prejudicados. “Para Zola, (…) Le Bon y Nordau, el aspecto mas aterrador de las masas era que se comportaban como las mujeres en su histeria, irracionalidade y extremismo”38, facto comprovado pela participação das mulheres na Revolução Francesa, entre outros levantamentos. Este processo, que pode ser apelidado de degeneração por hereditariedade, causou grande inquietação na sociedade de então. Eis que nos surge uma das mais “brilhantes” teorias científicas: a “Eugenia”, i.e., “aplicação racional das leis da genética à reprodução humana, preconizada pelo naturalista inglês Francis Galton (…), com o fim de obter melhoria das estirpes, tanto do ponto de vista físico como mental” 39. Este término resulta apenas de uma peculiar interpretação da Teoria da Evolução de Darwin, feita por Galton e seus colegas (não nos podemos esquecer que, a genética como hoje a conhecemos, estava longe de existir; o máximo que se conhecia eram as experiências de G. Mendel, que comprovavam a hereditariedade com base na lei da segregação fatorial [cf. “Gregor Mendel” in Wikipedia40]), e que mais tarde foi a raison d’être da higienização praticada na Europa (refiro-me não só ao extermínio dos judeus, mas sim de todos que fugiam aos padrões socialmente tidos como normais). O mais interessante de tudo foi a forma como as feministas interpretaram o conceito de eugenia, visto estas defenderem a superioridade da sua raça, enquanto cidadãs britânicas, germânicas, e também “Las feministas no perseguían nuevas libertades para las
32 33

op. cit. p.143 op. cit. p.153 34 FREUD in op. cit. p.156 35 op. cit. p.146 36 op. cit. p.147 37 op. cit. p.148 38 Ibid 39 "eugenia", in Dicionário Editora da Língua Portuguesa, 2011, http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/eugenia (consultado em 10/12/2011) 40 “Gregor Mendel” - http://en.wikipedia.org/wiki/Gregor_Mendel consultado a 10/12/2011

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mujeres, sino controlar a los hombres”, tentando travar a promiscuidade masculina. (cf. op. cit. pp.150-2).

2.5 A influência do Imperialismo e do Nacionalismo “fin de siècle” na mentalidade feminina
No que toca ao Nacionalismo, este é abordado por duas perspetivas: a das feministas britânicas e a do Estado. A primeira defendia que trazer a mulher para a esfera pública, aumentando a sua participação na política, era favorável ao fortalecimento da Nação (cf. CAINE: 1997, pp.123-4), ex., “Barbara Bodichon argued that giving women the vote would increase their public spirit and their patriotism, by producing «a lively, intelligent interest in everything which concerns the nation to which we belong».”41. Quanto à segunda, temos desde a França, Reino Unido, às recém-unificadas Alemanha e Itália, que sempre defenderam a posição da família “y se la consideraba como el lugar para la reproducción tanto de ciudadanos como de valores nacionales”42. Nesta época surgiam teorias, aceites por todo o espetro da sociedade (desde liberais, a antirrepublicanos), que explicavam a derrota das Nações pela falta de unidade familiar, devido às mulheres e aos homossexuais (cf. CAINE;SLUGA: 2000; p.123), culminando em leis que alteravam o regime laboral de modo a que a mulher não necessitasse de ter um emprego (op. cit. p.127), bem como a proteção no período pós-parto (op. cit. p.128). É, no entanto, importante frisar que: “La equiparación de lo maternal con lo nacional también concedió a las mujeres una base desde la que influir en la política y las políticas nacionales.”43. Tudo isto levou à separação das mulheres por classe social e raça (cf. op. cit. p.130). No final do séc. XIX, as feministas afirmavam que “la maternidad era un servicio al estado de la misma importancia que la actividad militar.”44, o que foi aproveitado pelos governos para resolver problemas nas diversas áreas (cf. op. cit. p.132). No que respeita ao Imperialismo, é de referir que as suas incursões ajudavam a afirmar a virilidade dos jovens varões, mas também havia a possibilidade de mistura de raças, o que não era bem visto aos olhos racistas da Europa (cf. op. cit. pp.135-6). Quanto às feministas “fueron fácilmente convencidas por el gobierno (…) para colaborar con las labores imperialistas, pues de esa manera, lograban autoconfianza y un sentido de su propia misión histórica, al verse a sí mismas abriendo camino para todas las mujeres del imperio.”45, sendo que na Inglaterra, França e Alemanha se verificaram casos de migração de mulheres brancas para as respetivas colónias (cf. op. cit. pp.138-9). Em suma, o Imperialismo foi a forma que as mulheres de classe média ou trabalhadora encontraram para a sua independência, ainda que à custa da desigualdade racial (cf. op. cit. p.140).

2.6 O Sufrágio
2.6.1 Feminismo, Sufragistas e Suffragettes Com a chegada do final do séc.XIX, nomeadamente a década de 1890, começou a estabelecer-se o conceito de Feminismo, enquanto luta pela igualdade de direitos. Hoje em dia, “The history of the modern western feminism movements is divided into three «waves».
CAINE, Barbara; English Feminism: 1780-1980; Oxford University Press, Somerset; 1997; p.124 CAINE, Barbara; SLUGA, Glenda; Género e História: Mujeres en el cambio sociocultural europeo de 1789 a 1920; Tr. Esp.; NARCEA, S.A. DE EDICIONES; Madrid; 2000; p.123 43 op. cit. p.130 44 op. cit. p.131 45 op. cit. p.137
42 41

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(…) The first wave refers mainly to women’s suffrage movements of the nineteenth and twentieth centuries”46 . Com a ascensão dos movimentos socialistas, as mulheres também começaram a formar os primeiros grupos de defesa do sufrágio feminino (realidade Britânica), ex., a National Union of Women’s Suffrage Societies - NUWSS (1897, liderada por Millicent Fawcett) e mais tarde a Women’s Social and Political Union – WSPU (1903, fundada por Emmeline Pankhurst). (cf. CAINE, SLUGA: 2000; p.161). Ambas as associações defendiam o sufrágio feminino baseado na igualdade de Direitos, e mais tarde “They argued that women, with their maternal and domestic qualities, would support reforms to help women and children and would seek to achieve a moral regeneration of society”47. A NUWSS era uma associação não-radical, defendendo um abordagem persuasiva e moderada, que tentava convencer a opinião pública, como tal, expulsaram a ala mais radical do partido, liderada por Emmeline Pankhurst, que, em 1903 fundou a WSPU que utilizava uma abordagem muito mais agressiva (“Pankhurst thought that the movement would have to become more radical and militant, if it were going to work.”48). Foi esta a dicotomia que ditou o que hoje se entende por sufragismo, i.e., o movimento em si; e as Suffragettes, que foi o nome dado pelo Daily MaiI ao movimento da WUSP.

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“Feminism” - http://en.wikipedia.org/wiki/Feminism; consultado a 20/10/2011; ultima modificação a 14/10/2011 às 00h43 47 HANNAM, June; Feminism (Short Histories of Big Ideas); Pearson Education Limited, London; 2007; p.56 48 “Suffragette” - http://en.wikipedia.org/wiki/Suffragette; consultado a 10/11/2011; ultima modificação a 26/10/2011 às 15h32

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3 “A I Guerra Mundial: Uma espécie de 1789 para as Mulheres”49
“A ideia de que a Grande Guerra alterou as relações entre os sexos e contribuiu muito mais para a emancipação das mulheres que anos ou mesmo séculos de combates anteriores é muito corrente durante o conflito e o período que imediatamente se lhe segue”50.

3.1 A Mulher e a I Guerra Mundial
Numa primeira fase da guerra, achava-se que esta ia ser fugaz, como tal, as mulheres apoiam-na: em cantinas, hospitais, etc. As feministas “suspendem as suas reivindicações, para cumprir (…) os seus deveres de mulher”51. Em 1915 surgem incentivos do Estado à sua contratação, mas, no outono de 1917 tudo muda, i.e., criam-se duas frentes de batalha: as “battlefront”52 (maioritariamente masculinas) e as “homefront”53 (maioritariamente femininas); cria-se uma economia de guerra e as mulheres passam a ter “novas responsabilidades e profissões - chefes de família, operárias de fábricas de munições, condutoras de elétricos e, até, auxiliares do exército”54. Outra das consequências da guerra foi o facto, e em seguimento das doutrinas do final do séc.XIX, dos médicos denunciarem a “«masculinização»”55 da mulher em virtude da sua emancipação. Pode-se afirmar que a guerra concedeu liberdades à mulher jamais vividas: esta viu o seu trabalho reconhecido, viveu novas experiências; em suma, experimentou a igualdade e consciencialização do seu valor (cf. THÉBAUD: 1995, pp.49,50). É também aqui que se dá “A morte ao espartilho, o encurtamento das saias, a simplificação do traje ([…] por Grabrielle Chanel)”56. Com o final da guerra dá-se uma “desmobilização feminina (…) rápida e brutal”57 e acentuase a divisão sexual do trabalho (cf. CAINE:2000, pp.186-7). É nesta altura que algumas mulheres, em alguns países ganham o direito ao voto, ainda que para “restaurar el orden político y social”58, ex., a Inglaterra (mulheres maiores de 30 anos) e a Bélgica (viúvas de soldados).

Traduzido e adaptado de: CLARK, Linda L.; The Rise of Professional Women in France: Gender and Public Administration since 1830; Cambridge University Press, Cambridge; 2000”, p.vii. 50 THÉBAUD, Françoise; “A Grande Guerra: O triunfo da divisão sexual” in THÉBAUD, Françoise (dirs.); O século XX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume V; Tr. Port.; Edições Afrontamento; Porto; 1995; p.31 51 op. cit. p.36 52 op. cit. p.38 53 Ibid 54 op. cit. p.32 55 op. cit. p.44 56 op. cit. p.50 57 op. cit. p.78 58 CAINE, Barbara; SLUGA, Glenda; Género e História: Mujeres en el cambio sociocultural europeo de 1789 a 1920; Tradução espanhola; NARCEA, S.A. DE EDICIONES; Madrid; 2000; pp.196

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4 O período entre guerras: época de grandes mudanças
“And tell me, Mary [Stott], what did you do during the time when there was no women’s movement?” “What do you mean, when there was no women’s movement? THERE’S ALWAYS BEEN A WOMEN’S MOVEMENT THIS CENTURY” (ALBERTI: 1989; pp.2-3)

4.1 Uma luta em estado latente
Após a guerra, surgiu um movimento depressivo na Europa. Como reação surgem os exageros dos Loucos Anos Vinte e com eles a figura da garçonne59 (mulher irreverente, emancipada, racional e exagerada [cf. SOHN:1995; pp.116]), no lado oposto temos a mulher que se volta de novo para o lar e para o papel de mãe. Com esta época vem o fim do casamento por conveniência, o que levou a um boom60 de eventos sociais, embalados ao ritmo do jazz61 e do charleston62, promovendo assim, o encontro dos jovens (cf. SOHN:1995; pp.130-1). Uma série de conquistas são logradas, nomeadamente a legalização de alguns métodos anti-contracetivos e inicia-se a defesa da despenalização do aborto (cf. SOHN:1995; p.135), bem como uma gradual libertação legal das mulheres, do jugo dos seus maridos (cf. SOHN:1995; p.139). Em suma: “No período entre as duas guerras, a mulher, nem Ofélia nem garçonne, nem caseira, nem pedante, liberta-se do jugo da natureza, conquista direitos no seio do casal, ao mesmo tempo que se aliena, como mãe e em nome da modernidade. (…), o período entre as duas guerras surge como uma época marcada por movimentos contraditórios, uma transição complexa e geralmente mal analisada pelos contemporâneos.”63.

Estrangeirismo Idem 61 Idem 62 Idem 63 SOHN, Anne-Marie; “Entre duas guerras” in THÉBAUD, Françoise (dirs.); O século XX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume V; Tr. Port.; Edições Afrontamento; Porto; 1995; p.144
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5 Conclusão
Para concluir, cito a autora, que conseguiu verbalizar o meu sentimento face ao tema, algo, que eu própria nunca consegui fazer, devido à minha sensibilidade perante este: “Porque o feminismo, à medida que se difunde, torna-se plural e contraditório. Entre o feminismo que pretende a igualdade na assimilação e o que pretende a exaltação da diferença (…) Mas o seu [das mulheres] poder de representação é sem dúvida mais elevado que o seu número. O «nós as mulheres», tão frequentemente invocado por isoladas que se pretendiam porta-vozes, toma mais consistência. Em todo o caso, fica-se impressionado com a dimensão europeia e o caráter transcontinental da circulação de ideias. Houve então como que uma «idade de ouro» do feminismo ocidental – que participa no desenvolvimento da democracia e do individualismo – que precipitou no limite do século, e que obriga os homens a redefinir-se.”64. Agora, após o que já foi citado, posso dizer que, e retomando a afirmação de M. Perrot que utilizei na introdução, a mulher de facto teve que aprender a ser livre e fê-lo efetivamente da maneira mais dura, lutando batalha a batalha até atingir o estado de emancipação que hoje goza. De facto, o “longo séc. XIX”, como Hobsbawm apelidou o período que vai desde as Revoluções Industrial até à I GM, foi o mais difícil dos séculos, onde, até então, jamais se havia dado tantas e tão profundas transformações (claro está que menciono apenas a Europa Ocidental). Após a I GM, pode-se concluir que a mulher teve “espaço” para se afirmar, tendo ganho o Direito ao voto e continuou progressivamente a afirmar-se na sociedade, desempenhando cargos onde jamais se imaginaria uma mulher (ex. cargos de chefias de países).

64

PERROT, Michelle; “Introdução” in FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle (dirs.); O século XIX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume IV; Tradução portuguesa; Porto; 1994; pp.499500

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6 Notas Metodológicas
Antes de mais gostaria de agradecer a quem me apoiou na realização deste trabalho. Refiro-me à mãe, que teve a árdua tarefa de ouvir as minhas lamentações e incertezas na realização do trabalho e ao seu o papel de troika65, evitando a minha dispersão no mesmo, bem como por me ter aconselhado o livro: “Como fazer uma tese em Ciências Socias”; à Carla Prado, que me ajudou a não me perder do meu objetivo de vista, fazendo uma leitura crítica do trabalho. Quanto ao trabalho propriamente dito, encontrei o primeiro obstáculo na idealização do problema, visto não ter sido suficientemente concisa. Outra dificuldade com a qual me deparei foi a escolha errada de duas fontes: ALBERTI, Johanna; Beyond Suffrage: Feminists in War and Peace, 1914-28 e LAW, Cheryl; Suffrage and Power: Women's Movement, 1918-28 (Social and Cultural History Today), que foram aquisições dispensáveis. Contrariamente, devo salientar a importância das obras: HANNAM, June; Feminism; CAINE, Barbara; SLUGA, Glenda; Género e História: Mujeres en el cambio sociocultural europeo de 1789 a 1920, e DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, as quais utilizei quase como que se de uma bíblia se tratassem, pois, como eu própria as apelidei eram como um “Feminism and Women’s History for dummies”. Acresce ainda dizer que, devido limite de carateres, vi-me forçada a eliminar pontos do índice inicialmente previsto, bem como encurtar o n.º de anos em análise, bem como utilizar as abreviaturas (cf. ECO:1991, pp.208-9).

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Estrangeirismo

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7 Bibliografia e Webgrafia
• • • ALBERTI, Johanna; Beyond Suffrage: Feminists in War and Peace, 1914-28; Macmillan; Michigan; 1989 CAINE, Barbara; English Feminism: 1780-1980; Oxford University Press, Somerset; 1997 CAINE, Barbara; SLUGA, Glenda; Género e História: Mujeres en el cambio sociocultural europeo de 1789 a 1920; Tradução espanhola; NARCEA, S.A. DE EDICIONES; Madrid; 2000 CLARK, Linda L.; The Rise of Professional Women in France: Gender and Public Administration since 1830; Cambridge University Press, Cambridge; 2000 ECO, Umberto; Como se faz uma tese em Ciências Humanas, Tr. portuguesa, Editorial Presença, 5ª edição; Lisboa 1991 FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle (dirs.); O século XIX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume IV; Tr. Port.; Edições Afrontamento; Porto; 1994 HANNAM, June; Feminism (Short Histories of Big Ideas); Pearson Education Limited, London; 2007 HENIG, Simon; HENIG, Ruth; Women and Political Power: Europe Since 1945 (The Making of the Contemporary World); Routledge; London; 2001 HOBSBAWM, Eric; A Era dos Extremos: História Breve do Século XX. 1914-1991; Tr. port.; Editorial Presença, Lisboa; 4ª edição; Outubro 2008 HOBSBAWM, Eric; A Era das Revoluções: 1789-1848; Tr. Port.; Editorial Presença, Barcarena; 5ª edição; Maio 2001 HOBSBAWM, Eric; The Age of Empire: 1875-1914; Abacus; London; outubro 2010 LAW, Cheryl; Suffrage and Power: Women's Movement, 1918-28 (Social and Cultural History Today); I.B.Tauris & Co. Ltd; London; 2000 THÉBAUD, Françoise (dirs.); O século XX; in DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dirs.); História das Mulheres no Ocidente, Volume V; Tr. Port.; Edições Afrontamento; Porto; 1995 REMOND, René; Introdução à História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias; Tr. Port; Gradiva; Lisboa; fevereiro 1998 BOURKE, Joanna; “Women and the Military during World War One” http://www.bbc.co.uk/history/british/britain_wwone/women_combatants_01.shtml; consultado a 20/10/2011; última modificação a 03/03/2011 CHAPSAL, Marion; “A Public Man? A Powerful Guy! A Public Woman? A Prostitute!” http://geronimocoachingnow.com/wpcontent/uploads/2011/11/Michelle_Perrot_photo_m1.jpg ; consultado a 07/12/2011; última modificação a 07/11/2011 “Christine de Pizan” - http://en.wikipedia.org/wiki/Christine_de_Pizan ; consultado a 14/10/2011; última modificação a 23/10/2011 às 21h21 “Female Roles in the World War” http://en.wikipedia.org/wiki/Female_roles_in_the_world_wars; consultado a 20/10/2011; última modificação a 16/10/2011 às 15h41 “Feminism” - http://en.wikipedia.org/wiki/Feminism; consultado a 20/10/2011; ultima modificação a 14/10/2011 às 00h43 “Gregor Mendel” - http://en.wikipedia.org/wiki/Gregor_Mendel consultado a 10/12/2011; última modificação a 04/12/2011 às 16h34 “Hildegard of Bingen” - http://en.wikipedia.org/wiki/Hildegard_of_Bingen; (06/10/2011); última modificação a 06/10/2011 às 17h14 “History of Feminism” - http://en.wikipedia.org/wiki/History_of_feminism; consultado a 20/10/2011; ultima modificação a 15/10/2011 às 02h37
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• • •

• • • • • • •

• •



• •

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“Mary Astell” - http://en.wikipedia.org/wiki/Mary_Astell ; consultado a 16/11/2011; ultima modificação a 16/09/2011 às 10h26 “Suffragette” - http://en.wikipedia.org/wiki/Suffragette; consultado a 10/11/2011; ultima modificação a 26/10/2011 às 15h32

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