Free Essay

Alice in Wonderland Analysis

In: English and Literature

Submitted By marceloaugusto
Words 6006
Pages 25
Literatura Infantil I: linguagens do imaginário Maria dos Prazeres Análise – Aventuras de Alice Marcelo Augusto Boujikian Felippe – nº USP 7192766
Comece pelo começo e continue até chegar ao fim, então pare.

Esta análise pretende evidenciar o modo pelo qual as Aventuras de Alice se destinam especialmente para crianças, e, por conseguinte, que todo olhar para a obra deve ter em conta esse endereçamento específico, ainda que adultos constantemente se interessem pelas leituras, e que se identifiquem com elas em muitos aspectos que uma criança não pode apreender. O poema introdutório ao livro “Alice’s Adventures in Wonderland” (1) deixa essa intenção bem clara, ao evocar o cenário que inspirou a criação da narrativa. No entanto, alguns críticos têm preferido um foco no caráter rigidamente referenciado do enredo e das personagens; o que é sem dúvida crucial, mas quais referências provocam um alento à difícil tarefa de organizar os conteúdos inconscientes de uma criança qualquer? O meio mais eficaz de falar a elas através da literatura tem sido comprovadamente a contação de histórias de fadas, porque estas possuem uma estrutura narrativa psicologicamente adequada para a criança. Funcionam, à maneira do sonho para o adulto, como a realização de um desejo; além disso, sugerem meios de solucionar os problemas e projetam o alívio de todas as pressões que são típicas do desenvolvimento humano. Buscando semelhanças com as histórias de fadas é que se tentará reaproximar a obra do gênero infantil. As Aventuras de Alice têm contra si o fato de corresponderem à criação do gênio de um homem só ao passo que o conto de fadas possui um caráter essencialmente universal, por ser um dos produtos do conhecimento das eras, relativo ao desenvolvimento do homem nas esferas coletiva e individual através da história da humanidade. Por outro lado, seu tema principal é bastante caro ao conto de fadas (e por extensão a esse próprio conhecimento): o embate entre uma criança que tenta se ajustar às regras de um mundo novo frente a seres perfeitamente adaptados e experientes. Parte do nonsense e do sentimento cômico repousam no fato de que a menina é perfeitamente civilizada, embora conserve os traços travessos e curiosos de uma criança, ao passo que os “adultos” não fazem o menor sentido. Além disso, à maneira do conto de fadas, as aventuras de Alice são orientadas para o futuro e conduzem a criança em uma jornada individual para compreender o mundo. Do mesmo modo, Alice deve avançar sozinha, deixando o conforto da proximidade à irmã mais velha, se quiser saciar sua curiosidade em relação ao coelho branco, representativo do estranho e do jamais visto. Seguindo-o é que desce pela toca, atravessando a linha tênue que separa o familiar do fantástico.

A mensagem mais clara que se pode tirar desta cena é que a criança deve ser oportunista e fuçadora; deve estar predisposta a forjar as situações novas que se lhe apresentarão. Somente dessa maneira poderá atingir aquilo que deseja mais: que a experiência reconheça sua autoafirmação como um ser que deve ser considerado e até mesmo respeitado quando se posiciona no mundo. Uma criança de mente saudável sabe de suas qualidades próprias, mas é constantemente frustrada pelo mundo adulto quando ele procura demonstrar que ela ainda é incapaz de lidar com todos os desafios que a vida lhe impõe. Mesmo que não sejam, os adultos são vistos como um porto seguro emocional e representam a autonomia que a criança quer experimentar. Mas enquanto as crianças da vida real costumam ser privadas pelos pais e pelas demais instituições do “mundo adulto” de experimentar o mundo completamente, Alice é recompensada pela fuga com mais luz do que pode receber. O País das Maravilhas se oferecerá a Alice como nenhum universo jamais se mostrou a garota alguma. Ele irá, de fato, oferecer uma experiência muita vívida pela qual não se pode passar sem evoluir e nesse sentido Alice será literalmente forçada a crescer. Como de costume, o sentimento imediato que sucede o anúncio de uma mudança é a negação:
“You ought to be ashamed of yourself,’ said Alice, ‘a great girl like you,’ (she might well say this), ‘to go on crying in this way! Stop this moment, I tell you!’ But she went on all the same, shedding gallons of tears, until there was a large pool all round her, about four inches deep and reaching half down the hall.”

É curioso que a questão da variação de tamanho esteja estreitamente relacionada com o elemento do jardim, descrito como “o mais encantador que ela já tinha visto”; os dois elementos aparecem no mesmo parágrafo em sete ocorrências anteriores à entrada ao jardim, de modo que há sempre um problema envolvendo o tamanho da passagem e o tamanho de Alice: ela precisaria ter uma altura menor do que a habitual, e muito menor do que a atingida em alguns pontos da narrativa para conseguir entrar. Podemos, a partir dessa relação, conectar o desejo de acessar o local inalcançável ao desejo de permanecer uma criança. Desse modo, o jardim remeteria a um estado de pureza semelhante ao jardim do Éden, e se espelharia em Alice o desejo de qualquer homem que é o de viver o paraíso na terra; se alinharia, além disso, a obra aos produtos míticos que o homem produziu. Nessa perspectiva as Aventuras de Alice se afinam ao conto de fadas, que tem nas suas raízes a cultura popular. Eles também abundam em motivos religiosos, muitas histórias bíblicas são de natureza idêntica a eles. A maioria se originou em períodos em que a religião era o guia principal da vida (papel ocupado hoje pela ciência), sendo assim, “eles lidam, diretamente ou por inferência, com temas religiosos” (2). De qualquer forma, Alice é empurrada para longe do desejo de permanência infantil e efetivamente colabora para se distanciar dele através de suas lágrimas que formam um repentino mar. Fica bem evidente nesse ponto, através da transição saguão-praia, a instabilidade espacial que é uma constante na narrativa e contribui para criar o efeito de ausência de controle, frente às mudanças bruscas que caracterizam o curso de uma vida. Na praia é que se inicia o contato de Alice com as mentes confusas dos seres do País das Maravilhas, ela é, de pronto, rebaixada pelo papagaio:
“she had quite a long argument with the Lory, who at last turned sulky, and would only say, ‘I am older than you, and must know better’”

E, no capítulo seguinte, pelo coelho branco que a confunde com outra pessoa e lhe dá ordens. O problema da identificação é recorrente e ganha de Alice algumas reflexões no início da narrativa, mesmo assim, ela age como o coelho branco esperaria que sua suposta criada Mary Ann agisse, assume essa identidade, e sai em busca do leque e das luvas na casa dele. Dentro da casa, encontra mais uma garrafa com os dizeres “BEBA-ME”, e demonstra comportamento idêntico ao de uma criança que tenta estabelecer premissas para melhor organizar seus conhecimentos de mundo:
“I know something interesting is sure to happen (…) whenever I drink or eat something”

Mais importante, porém, é seu desejo manifesto pelo crescimento, imediatamente concedido. Alice bebe da garrafa com tanta volúpia que acaba por ficar grande demais, presa na casa do coelho branco. Esta passagem remete aos contos infantis em que desejos irrefletidos causam um mal à criança, trata-se da advertência que dita “deve-se pensar antes de fazer as coisas”. Quando percebe seu erro Alice considera o arrependimento por ter entrado na toca do coelho, mas o descarta imediatamente, como que se lembrando do caráter obstinado do herói do conto de fadas:
’It was much pleasanter at home,’ thought poor Alice, ‘when one wasn’t always growing larger and smaller, and being ordered about by mice and rabbits. I almost wish I hadn’t gone down that rabbit-hole—and yet—and yet— it’s rather curious, you know, this sort of life! I do wonder what can have happened to me! When I used to read fairytales, I fancied that kind of thing never happened, and now here I am in the middle of one!’

Bem, poderíamos dizer que Alice quase acertou a natureza do universo em que estava vivendo temporariamente; isto porque a narrativa esclarece, mais adiante, que tudo não passa de um sonho. A ambientação onírica é uma escolha muito interessante por sustentar várias semelhanças com o cenário do conto de fadas, tais como a função de realizar um desejo, a narrativa de cronologia indefinida e a personificação de animais; em relação a esta última é interessante apontar que funciona como um mecanismo de disfarce do conteúdo latente do sonho: os animais tomam o lugar dos adultos. É certamente o que ocorre porque diversos aspectos da relação humana adulta são parodiados na obra através dos animais; o elemento da autoridade é sobressalente na conversa travada entre o coelho branco, Pat, e Bill, o lagarto. Este último, por gozar de menor prestígio, é confrontado com a temível empresa de retirar o “monstro” (Alice) da casa, e é arremessado para longe na tentativa. A solução final encontrada pelos animais é rebaixar a garota, atirando-lhe seixos que se transformam em bolinhos quando tocam o chão. Os bolinhos, como de costume, provocam uma variação de tamanho, e Alice, comendo-os, consegue passar pela porta e fugir dos animais. Seu próximo encontro é com a Lagarta e o diálogo travado entre elas é um marco na narrativa. Alice é questionada a respeito de sua identidade e tem dificuldades para responder, porque afirma ter mudado várias vezes desde o início do dia. Essas mudanças se referem obviamente ao tamanho da garota, o que vem a reforçar a tese de que as oscilações dizem respeito aos impulsos contraditórios que a criança experimenta, direcionando-a simultaneamente à infantilidade e à maturação. A Lagarta, por sua vez, não se mostra nem um pouco impressionada com a possibilidade de se transformar. Mantém um ar indiferente em relação aos receios de Alice. Age como um velho sábio, que compreendeu as regras

do jogo da vida, de mudanças e transformações. Seu temperamento calmo e sua compreensão do poder da palavra (a lagarta dirá somente o necessário) contrastam com as irritações de Alice e suas respostas confusas. A Lagarta age à maneira do velhinho do poema “The old man’s confort and how he gained them”, parodiado através da voz de Alice para “You are old, father William”. Foi apontado por Hugh Haughton (3) que a versão de Lewis Carroll enfraquece o caráter didático do original e dá ao Pai William uma vitalidade excêntrica que ressoa na estupidez do questionador jovem. Essa escolha temática do poema satírico se alinha prontamente à posição de inferioridade inicial ocupada por Alice. A Lagarta, contudo, será menos hostil do que as demais criaturas do País das Maravilhas, e oferecerá à garota um poder jamais imaginado até então, que é o de controlar as oscilações de tamanho através dos pedaços do cogumelo, e assim iniciar o processo de organizar seus impulsos emocionais, utilizando-os para vantagem própria. Seu desenvolvimento é visivelmente perceptível no capítulo seguinte, poder-se-ia dizer que ela ouviu o conselho da Lagarta, de não perder as estribeiras, isso apesar dos tipos muito argumentativos que encontra pelo caminho. Alice se mantem tranquila quando atacada pela Duquesa (“you don’t know much, and that’s a fact.”) e consegue até se adaptar à lógica do País das Maravilhas durante a conversa com ela. A Duquesa afirma que o mundo giraria mais depressa se cada um cuidasse de seus próprios afazeres, ao que Alice responde que isso não seria uma coisa muito boa, porque os dias seriam curtos demais. Ela toma uma figura de linguagem literalmente e assim conquista uma pequena vitória. Prova maior do amadurecimento, contudo, é o aparecimento da faceta maternal de Alice, quando toma para si a criança da Duquesa pensando estar salvando-a de um assassinato (o que não é nem um pouco um exagero já que os objetos atirados pela cozinheira em direção ao bebê e o péssimo tratamento da duquesa dão para uma cena extremamente aflitiva). A transformação da criança num porco mostra um dos maiores perigos da transição da infância para a maturidade que é a de se transformar num adulto mal-educado. Comprovando esta ideia está o fato de que, quando o porco sai andando pelo bosque, Alice pensa em crianças conhecidas que dariam bons porcos. Alice manterá um estado de espírito mais ponderado também no chá da tarde, em que é especialmente provocada pelas brincadeiras de linguagem do Chapeleiro Maluco e da Lebre de Março, e em todo o caminho que leva ao jardim. Novamente defrontada com a porta do começo da narrativa, ela usará a cabeça e manterá a calma para atravessa-la, em vez de chorar como fez na primeira vez. Ao finalmente entrar no jardim Alice descobre não um paraíso infantil, mas que fora vítima de uma falsa impressão, pois as rosas são pintadas e os habitantes perigosos e destemperados. O jardim existe inicialmente como o objeto que representa o desejo de Alice de permanecer uma criança, mas ela percebe que se trata de uma cópia pobre do mundo real, em que adultos bidimensionais seguem regras arbitrárias e convenções que muitas vezes já perderam a razão de existir. Alice encara as cartas-soldado com grande confiança, lembrando que são apenas um baralho de cartas e que ela não tem nada a temer; baseada nessa atitude geral se recusa a imitar os três jardineiros que se atiram no chão

imediatamente após o anúncio da presença da Rainha de Copas. Sua confiança surte efeitos e ela salva as cabeças dos três jardineiros. Conforme o tempo passa Alice se torna cada vez mais ansiosa com a Rainha de Copas, força singular por estar mais preocupada com o frenesi da autoridade absoluta do que com as perversões da lógica, usualmente empregadas pelos seres do País das Maravilhas. A Rainha de Copas representa a força capaz de reprimir o povo fisicamente, e suas maneiras infantis refletem o inevitável descontrole que o poder suscita. Neste capítulo Alice aprende a conviver com um grupo que compõe a elite da sociedade, sua apresentação como um baralho de cartas sugere que a convivência dentro desse grupo se desenvolve como num jogo e a escolha das cartas aproxima-o da esfera da trapaça e da aleatoriedade. Alice deve-se adaptar também a um jogo particularmente difícil de croqué, em que nenhum dos jogadores observa a existência de regras e as peças do jogo são vivas. É curioso a respeito desse jogo que seja um elemento presente também na “vida real” de Alice:
“Sometimes she scolded herself so severely as to bring tears into her eyes; and once she remembered trying to box her own ears for having cheated herself in a game of croquet she was playing against herself, for this curious child was very fond of pretending to be two people.”

O jogo de croqué aparece como um material recente utilizado pelo sonho para compor a imagem total que o constitui; é uma construção análoga à da própria obra de Lewis Carroll, uma vez que ele se utilizou de elementos de sua própria biografia para compor a história de Alice. Este trecho serve também para ilustrar um mecanismo recorrente utilizado por crianças quando querem se eximir do peso da culpa, o de dividir-se em entidades antagônicas. Além de tudo, anuncia, à maneira dos grandes contos, o final da trama (a citação pertence ao começo da narrativa): Alice é posta a julgamento por uma parte de si mesma, por ter se portado mal num jogo de croqué (considerando que todos os personagens da trama são invenção da garota). A discussão sobre a decapitação do Gato de Cheshire (que aparece como um zombador no meio do jogo) motiva-se no fato de ele ser uma figura rara, que trata Alice com cortesia e possui a frieza de esnobar as autoridades que o ameaçam. O Gato de Cheshire é similar à Lagarta, dado que parece tranquilo e desincomodado pela confusão geral do País das Maravilhas. A discussão é cheia de nonsense, uma vez que o Rei alega que tudo o que tem cabeça pode ser decapitado e o Carrasco alega que ser decapitado requer ter um corpo. Alice consegue acalmar a situação, contudo, e transfere a responsabilidade da decisão para a Duquesa, dona do gato. A Duquesa aparece diferente, mas sua mudança comportamental reflete as mudanças que ocorreram em Alice. A Duquesa não é mais uma figura intimidante que age imperativamente contra Alice, parece agora uma mulher bobinha, cheia de clichês que degeneram em nonsense. Sua tendência em achar uma moral para tudo satiriza os contos admonitórios, que costumam ser excelentes em destruir os conteúdos inconscientes das crianças, a exemplo de histórias como “A Formiga e a Cigarra”. Alice continua a demonstrar seu crescimento no diálogo travado com o Grifo e a Tartaruga Falsa. Quando chegou ao País das Maravilhas, ela ofendeu em mais de uma ocasião seus habitantes trazendo à tona assuntos

desagradáveis como o último jantar ou sua gata Dinah e suas qualidades predadoras. Embora quase mencione que comeu lagostas para o Grifo, Alice consegue se segurar a tempo. Ela aprendeu com os erros do passado e consegue manter uma conversa mais civilizada com os animais. O episódio final da primeira narrativa, correspondente às aventuras no País das Maravilhas, retrata um julgamento. Um momento de brincadeira com a linguagem muito interessante é a explicação acerca do significado da palavra “reprimido”, que é muito longo e altamente específico em comparação com o significado corrente. O uso da palavra frequentemente com essa conotação específica, numa área textual muito bem delimitada, colabora para a criação de um efeito especialmente cômico e de certo modo malvado, aludindo ao caráter tirânico das instituições de poder do País das Maravilhas e seus métodos de punição. Os procedimentos do julgamento são obviamente injustos, além da competência dos envolvidos ser altamente questionável. A impressão desse cenário em Alice marca seu crescimento, ela não é intimidada nem engolida pela atmosfera do julgamento. Sem comer nenhum pedaço de cogumelo Alice começa a literalmente crescer e mal consegue perceber o processo acontecendo. Alice entra no País das Maravilhas como uma pequenina e sairá como um gigante. Ela consegue rebater a linha de raciocínio débil do Rei e se prontifica imediatamente a objetar evidências injustas quando se lhe apresentam, expondo a procedência comum das pessoas, de extrapolar para conclusões a que elas querem chegar a partir de evidências insuficientes. O sonho termina com as cartas voando selvagemente contra Alice. Isso ocorre porque ela se recusa a entrar no jogo da maneira que a sociedade espera, desenvolve um senso de justiça e uma capacidade de pensamento crítico que fornecem as bases para que ela afirme com mais propriedade sua própria individualidade. Por fim, Alice é acordada pela irmã mais velha, que revela ser tudo um sonho, e ouve toda a história de Alice, nos mínimos detalhes que ela podia lembrar. Temos uma boa ideia do que a irmã de Alice ouviu porque o narrador nos possibilitou durante toda a narrativa o acesso a todos os pensamentos e sensações da protagonista, por isso, as conclusões da irmã constituem um alento ainda maior para a criança que acabou de viver a jornada. As conclusões remontam ao início da análise e cumprem justamente o que a criança mais quer ouvir, o reconhecimento dado pela voz da experiência. A irmã imagina Alice como uma mulher crescida que manteve o coração simples da infância, ou seja, que não foi corrompida, como aconteceu ao baralho de cartas e a alguns outros seres do País das Maravilhas. A história de “Alice’s Aventures in Wonderland” segue a mensagem do conto de fadas, de que uma luta contra dificuldades na vida é inevitável, mas que se a pessoa não se intimidar com as afrontas inesperadas e muitas vezes injustas, dominará todos os obstáculos e viverá um final feliz. A obra, porém, não termina aí, em 1871 (seis anos após Wonderland) Lewis Carroll publica Through the Looking-Glass, and What Alice Found There (4) . O livro apresenta de início um tabuleiro de xadrez e a dramatis personae mostra a correspondência entre as personagens e as peças do jogo de xadrez. A escolha desse jogo invoca a precisão e a qualidade estrategista que qualquer bom jogador deve possuir, em contraposição ao elemento de sorte que

acompanha os jogos de cartas. Lewis Carroll é enfático quanto ao fato de que as jogadas no livro funcionam perfeitamente de acordo com as regras do xadrez, embora a ordem das jogadas (peças brancas e vermelhas alternadamente) nem sempre seja observada. Dessa vez Alice está entrando em um universo novo, mas do qual ela já tem alguma noção. Na passagem em que ela está conversando com o gatinho, pergunta se ele se lembra do xeque que ela construiu, mas que não deu certo por causa de um cavalo intrometido, o que revela um conhecimento prévio acerca das regras do jogo. Outra peculiaridade deste segundo livro é o tema da inversão. Carroll lembra com frequência a oposição básica entre os dois mundos, que atinge tanto dimensões físicas quanto comportamentais. A isso se acrescenta a intuição do autor em aproximar o tema do espelho e do jogo de xadrez, que é um jogo simétrico de inversão especular (rainha vermelha na casa branca e rainha branca na casa vermelha; reis em posições inversas). Mesmo que os dois livros reflitam sobre o tema do crescimento, em Looking-glass esses problemas são revestidos pela resignação de Lewis Carroll acerca da chegada à juventude por parte de Alice. O poema introdutório ao segundo livro trata desse tema: uma vez que a jovem Alice Liddell está efetivamente se aproximando do mundo adulto, os laços que a unem ao eu lírico vão se desfazendo (Lewis Carroll era introvertido e reservado perto de outros adultos). A história se inicia inversamente a Wonderland, num espaço fechado e em pleno inverno, com Alice conversando em tom reprovador com seus gatinhos. Esta conversa já é um indicativo do crescimento de Alice, visto que no primeiro livro ela não esteve nem perto de dar ordens à sua gata Dinah; o curioso é que o contrário esteve muito mais perto de acontecer, há uma alusão a Alice imaginando como seria ouvir ordens de sua própria gata:
“Miss Alice! Come here directly, and get ready for your walk!’

Atravessando o espelho, Alice descobre que a sala do outro lado é quase idêntica à sua própria sala de estar. As inversões são mais facilmente notáveis na primeira relação com as peças de xadrez, inanimadas no mundo real, mas muito vivas no País do Espelho. A invisibilidade de Alice sugere um poder quase divino ao permitir que ela manipule a vida do rei branco, experimentando um poder que esteve longe de alcançar em Wonderland. Isso estabelece a ideia de que o tabuleiro é um plano de existência em que indivíduos são posicionados como peças de xadrez e seus movimentos são pensados pelo intelecto de um outro ser. No início da história Alice pode brincar com as peças, mas deixando a sala do espelho a garota efetivamente entra no jogo, participando como o peão branco da casa da rainha (embora só um pouco mais tarde perceba isso). Alice adentra a terra desconhecida com noções preconcebidas acerca de como o mundo funciona. Ao conhecer as flores falantes, descobre não só que elas não partilham as mesmas noções, mas que a população nativa a considera uma tola. Alice precisa se adaptar novamente a um mundo novo, e isso reflete o crescimento gradual de uma criança em direção à maturidade. Muitas vezes o infante se sentirá extremamente confiante com alguma nova descoberta e por causa disso tropeçará no próximo obstáculo que a vida

lançar, por ter sido displicente ou excessivamente confiante em si mesmo a ponto de não tomar os cuidados necessários. Alice falha em compreender que no País do Espelho tudo deve ser feito de trás pra frente. Ela fica confusa quando a Rosa aconselha que ela ande na direção contrária para chegar à Rainha Vermelha. A Rainha Vermelha oficializa a participação de Alice no jogo, frisando o objetivo final de se tornar Rainha (um tema muito próprio do conto de fadas) e detalhando as regras de movimento que incidem sobre o peão. A Rainha Vermelha anuncia o percurso de Alice (novamente à maneira dos grandes contos), que é a progressão da peça mais básica do jogo de xadrez para a mais singular e poderosa. Depois disso, desaparece num instante pelas casas do tabuleiro, refletindo o jogo de xadrez, em que a rainha tem mobilidade muito maior do que o peão. Apesar da atração pelos mosquitos-elefante, Alice descarta mudar seu caminho e aprecia-los, favorecendo as regras do jogo. Seus movimentos se tornam mensuráveis e previsíveis. A viagem de trem permite que Alice pule a terceira casa, assim como o peão pode avançar dois espaços no primeiro movimento. O encontro com Tweedledum e Tweedledee reintroduz o tema da composição de uma entidade a partir de duas manifestações físicas (a exemplo de Alice quando finge ser duas pessoas), e o da inversão, já que os gêmeos constituem imagens espelhadas um do outro. A conversação deles possui a característica de construir o mesmo fio de texto, de modo que os dois estão sempre falando sobre a mesma coisa. Eles funcionam como ponto e contraponto, dado que Tweedledee sempre iniciará suas falas com a conjunção adversativa “ao contrário”, ou seja, cada um deles emite orações que só tomadas em conjunto chegam a formar um enunciado (uma frase contextualizada). Os atos dos irmãos são previsíveis para o leitor porque foram anunciados por Alice no início deste capítulo através do poema que ela recita. Recitar um poema em looking-glass é quase a mesma coisa que anunciar um evento que certamente acontecerá; é como se a linguagem possuísse uma propriedade mágica que condenasse as personagens a viver os eventos criados por meio dela. É interessante aplicar essa regra também aos poemas introdutório e final do segundo livro de Alice, pois vem à tona a conotação de inevitabilidade da jornada pela qual uma criança deve passar para se tornar um adulto. O episódio relativo ao sono do Rei Vermelho faz com que Alice questione sua própria existência. A possibilidade de que ela seja um fragmento do sonho do rei complica a estabilidade da vida ainda mais, uma vez que Alice já tinha experimentado o esquecimento do seu próprio nome e agora deve lidar também com a insegurança acerca de sua existência material no mundo. A presença do Rei Vermelho sugere a noção de que nenhuma pessoa existe, senão no sonho de uma deidade. Os personagens do espelho vivem uma existência determinista, o livre arbítrio é uma ilusão nesse universo, uma vez que toda ação deve obedecer às regras do jogo de xadrez. Os irmãos estão

satisfeitos apesar desse desconforto inerente à vida, de jogar conforme as regras, mas Alice tem dificuldades em assimila-lo. O episódio serve acima de tudo para reintroduzir a ambientação onírica oficialmente, justificando alguns acontecimentos maravilhosos como a inversão entre causa e consequência ilustrada na condenação do Mensageiro do Rei antes que ele pudesse cometer o crime, na dor que a Rainha Branca sofre antes de espetar o dedo, além da metamorfose da Rainha Branca em uma ovelha que mantem uma lojinha. Dentro dessa loja Alice encontra, a exemplo de Tweedledum e Tweedledee, outra personagem extraída de uma nursery rhyme, nome dado a poemas tradicionalmente recitados para crianças na Inglaterra e em países culturalmente afins durante o século XIX. Trata-se de Humpty Dumpty, que se revela extremamente infantil e age como uma criança espertalhona tentando contar vantagens; Alice não deixa que seus comentários impertinentes atinjam sua estabilidade emocional e procura até encontrar um tópico de conversa que seja agradável para ambos, embora Humpty Dumpty não esteja nem um pouco preocupado em manter uma conversação pautada na construção cooperativa do texto. O Leão e o Unicórnio, que também constam de uma nursery rhyme, correspondem aos símbolos dos brasões da Inglaterra e da Escócia, em luta pela coroa na unificação do reino. A definição de seu embate no país do espelho é sempre evitada pelo “juiz”, convenientemente o próprio Rei Branco, detentor da coroa em disputa. É curiosa a apresentação de Alice ao Unicórnio por aludir ao sistema referencial que compõe a linguagem, ambos tomam o outro por um monstro fabuloso, ou seja, utilizam a mesma expressão para designar entidades diferentes. Merece destaque no capítulo seguinte a descrição inicial do Cavaleiro Branco, que abrange a maior sentença de toda a narrativa e evoca de modo mais sobressalente o caráter fanopeico da palavra, lembrando inclusive o hobby de Carroll de tirar fotografias:
Of all the strange things that Alice saw in her journey Through The Looking-Glass, this was the one that she always remembered most clearly. Years afterward she could bring the whole scene back again, as if it had been yesterday—the mild blue eyes and kindly smile of the Knight—the setting sun gleaming through his hair, and shining on his armour in a blaze of light that quite dazzled her—the horse quietly moving about, with the reins hanging loose on his neck, cropping the grass at her feet—and the black shadows of the forest behind—all this she took in like a picture, as, watching the strange pair, and listening, in a half-dream, to the melancholy music of the song.

Este capítulo descreve a estadia de Alice na penúltima casa do tabuleiro. Ela é inicialmente atacada pelo Cavaleiro Vermelho, que havia acabado de se estabelecer na casa adjacente, seu grito de “Alto lá! Xeque!” não é direcionado a Alice, que, com base na movimentação típica do cavalo no jogo de xadrez, não poderia ser removida por ele do tabuleiro na jogada seguinte. Desse modo, muito embora não perceba, o Cavaleiro Vermelho está fadado a perder em combate para o Cavaleiro Branco, que chega para resgatar Alice, e ela, analogamente, não precisava temer o Cavaleiro Vermelho. Nesse

sentido o Cavaleiro Branco é o único jogador que demonstra conhecer as regras de movimentação do jogo, uma vez que proclama sua vitória ao final de um combate em que ambos os duelistas falharam miseravelmente, mal conseguindo se manter em cima de seus cavalos. Afora a afirmação do vencedor e o estudo do tabuleiro ilustrado no livro, nenhum elemento da narrativa indica a vitória técnica de algum dos combatentes. O que ocorre é que o Cavaleiro Branco salva Alice de um risco que ela não corria efetivamente, satirizando o tema da donzela em apuros. De fato, Alice não necessita da guia do Cavaleiro Branco para concluir a travessia da sétima casa em direção à coroa, mas aceita a ajuda porque esse é o lance que o Cavaleiro Branco deve realizar. Ou seja, ele é quem precisa da garota para que seu lance tenha algum significado. Há certo nível de carência no fato de ele pedir para que Alice aja uma como uma donzela no ato da despedida, levantando a mão e esticando um lencinho ao vento enquanto observa sua última movimentação, que por sinal ocorre à maneira do cavalo, em frente e virando numa curva ao final. Por todos esses motivos é sugerido que o Cavaleiro Branco aparece como uma manifestação fictícia de Lewis Carroll. Alice encontra nele um indivíduo que a estima verdadeiramente. Ocorre aí uma alusão inversa baseada na vida de Alice no “mundo real”: no início da segunda narrativa ela menciona, a respeito de um jogo de xadrez em que havia tomado parte, uma tentativa de xeque que fracassa, devido à presença de um cavalo intrometido; no mundo do espelho, Alice encontra um Cavaleiro compreensivo, que a ajudará na empresa de alcançar a casa final do tabuleiro e posteriormente terminar o jogo caracterizando um xeque-mate. Por fim, a cena da despedida imita o modo como Alice Liddell se distanciou de Carroll à medida que foi se tornando uma jovem moça e deixando o mundo infantil. O capítulo em que Alice se torna rainha e deve aprender as maneiras de uma com as duas rainhas do tabuleiro traz semelhanças com a história de Cinderela. Em ambas temos o relato da convivência de três “irmãs”, sendo que à caçula cabe o cumprimento de todas as tarefas domésticas (Alice deve embalar o sono das duas Rainhas ao final do capítulo). Analogamente ao fato de Cinderela ter de ir escondida para o baile do príncipe, está o fato de Alice não conseguir acesso a qualquer planejamento a respeito do banquete que está sendo dado em seu nome. Mesmo durante o banquete, as rainhas tentam assumir a autoridade sobre os copeiros, e chegam até mesmo a humilhar Alice evidenciando sua falta de conhecimento a respeito do mundo do espelho. A mesa nessa cena representa a mesa na casa de Alice em que repousa o tabuleiro de xadrez, próximo à Alice “real”, que está dormindo na cadeira. No sonho ela está de frente para todos os convidados do banquete, e pode ver claramente qual peça está sentada em qual lugar. Nenhum dos convidados se portava decentemente e Alice já estava cheia de ter que lidar com as maluquices das refeições e dos talheres, o que desencadeia o momento de maior tensão (equivalente ao voo das cartas na primeira narrativa) em que Alice puxa a toalha de mesa. A diferença é que Alice participa ativamente dessa convulsão final: sua perseguição à Rainha Vermelha caracteriza o movimento de xeque-mate no Rei Vermelho, e o jogo termina. Alice acorda e se descobre sacudindo o gatinho em vez da Rainha Vermelha. O fato de que Dinah continua a lamber Snowdrop quando Alice

acorda revela que o sonho aconteceu em um só instante. Essa percepção, de que era tudo um sonho, leva Alice a ponderar se o sonho era dela ou do Rei Vermelho. O narrador, como em inúmeras outras ocasiões, se mostra interativo e deixa a pergunta em aberto. Embora, considerando a perspectiva de que o sonho é a realização de um desejo, parece que se ajusta melhor a Alice, uma vez que mostra a realização de desejos referentes à experiência dela, sejam: o de tornar-se uma rainha e o de superar as rainhas que existiam anteriormente a ela. A obra de Alice explora os temas relacionados ao gênero infantil de maneira diferente que o conto de fadas, embora procure atingir e efetivamente atinja efeitos parecidos. Em Alice outros fatores estão em jogo, e eles interferem na estrutura da narrativa – o conto de fadas tende a simplificar todas as situações ao passo que as Aventuras de Alice irão frequentemente mostrar a teia complexa que compõe a vida. É preferível, apesar disso, qualificar as Aventuras de Alice como contos de fadas, dado que muitas vezes venham a se alinhar com histórias características desse gênero; pautamo-nos também na visão de Lewis Carrol, quando conceitua a jornada como um “dom de amor” no poema introdutório a looking-glass, ou seja, como um dom de amor para uma criança. Trata-se, sem dúvida, de uma obra que oferece esperanças para a criança acerca de seu próprio desenvolvimento, enquanto diverte também os adultos pela mestria com que combina para esse fim todos os elementos inseridos na narrativa, com uma capacidade referencial impressionante. A análise presente com certeza não cobre todas as referências ocultas no texto, nem mesmo se presta a identificar todas as mais óbvias. O que se procurou fazer foi um percurso através da obra, e demonstrar por ele que, como não poderia deixar de ser, a jornada é muito mais rica e produtiva para uma criança do que para um adulto.

Referências (1) http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pp000004. (2) BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. (3) Lewis Carroll; Hugh Haughton; John Tenniel (2003), Hugh Haughton, ed., Alice's adventures in Wonderland and Through the looking-glass and what Alice found there (reissue, illustrated ed.), Penguin Classics. (4) http://www.gutenberg.org/files/12/12-h/12-h.htm

Similar Documents

Premium Essay

Alice In Wonderland By Richard Rodriguez: Poem Analysis

...Not many children, if you asked them, could tell you the exact color and size of Propranolol (a beta blocker) or how difficult it is to maneuver a wheelchair in a store, but I could. As a ten year-old who stayed in and out of the hospital, whirling from doctors’ offices to specialists and back again, I was prohibited from doing the very things which kids like to do and instead found my enjoyment in books. I can still recall the first time I cracked the spine of Lewis Carol’s “Alice in Wonderland” and the sense of calm that overtook my body as I lost myself in the delightful absurdity of his writing. I read his books and poems, along with many other works at a time when I was in constant pain from my chronic illness. Being an introverted child,...

Words: 928 - Pages: 4

Premium Essay

Censorship And Banned Books

...Sitting in the library, in my hands is my favorite book , when i realized other people's cant have their favorite book in their hands the hard copy .Others can’t read their adored book because the books are banned or censored just because others dislike or disagree .Book banning and censorship has been a big deal all around the states . Google says censorship is “the suppression or prohibition of any parts of books, films, news, etc. that are considered obscene, politically unacceptable, or a threat to security.” I believe censorship and banned books should not be required in some books for instance Alice and the adventure Wonderland have no reasonable reason to be...

Words: 684 - Pages: 3

Free Essay

Tim Burton Analysis

...Individuality is the vibrant streak of starlight in the black night. Individuality makes you the distinctive duckling in the crowd of adorable chicks. Yet is “different” truly such an atrocious thing? Tim Burton--renowned director and producer of movies such as Alice in Wonderland, Edward Scissorhands, and Charlie and the Chocolate Factory--rebels against this common assumption by revolving his cinematic works around the importance of uniqueness. Inspired by Ray Harryhausen classic horror films and Roger Corman’s Vincent Price, he fused his contrasting light and dark moods to develop powerful themes behind his films, enhancing the value of individuality. To this day, his cinematic works empower many people with a new sense of pride in themselves. Tim Burton’s films use non-diegetic music, shot-reverse-shot, and close-up techniques to convey his thoughts about individuality and uniqueness. As long as Tim Burton uses close-ups, the unique traits of certain characters are repeatedly highlighted. Close-ups are when the images being shot take up at least 80% of the entire frame. Edward Scissorhands is a key example of Tim Burton’s ability to utilize close-up shots to add to the overall theme of individuality. Whenever Edward is using his scissor-hands--whether it’s to cut hair or chop lettuce--the scissors are consistently shown in a close-up. As a result, Edward’s hands are established as an significant feature that sets him apart from others. Similarly, in Charlie and the...

Words: 1026 - Pages: 5

Premium Essay

Hello

... PHILOSOPHY/POP CULTURE S E R I E S R Can drugs take us down the rabbit-hole? R Is Alice a feminist icon? curiouser To learn more about the Blackwell Philosophy and Pop Culture series, visit www.andphilosophy.com and WILLIAM IRWIN is a professor of philosophy at King’s College in Wilkes-Barre, Pennsylvania. He originated the philosophy and popular culture genre of books as coeditor of the bestselling The Simpsons and Philosophy and has overseen recent titles, including Batman and Philosophy, House and Philosophy, and Watchmen and Philosophy. curiouser RICHARD BRIAN DAVIS is an associate professor of philosophy at Tyndale University College and the coeditor of 24 and Philosophy. R I C H A R D B R I A N D AV I S AND PHILOSOPHY Alice’s Adventures in Wonderland has fascinated children and adults alike for generations. Why does Lewis Carroll introduce us to such oddities as a blue caterpillar who smokes a hookah, a cat whose grin remains after its head has faded away, and a White Queen who lives backward and remembers forward? Is it all just nonsense? Was Carroll under the influence? This book probes the deeper underlying meaning in the Alice books and reveals a world rich with philosophical life lessons. Tapping into some of the greatest philosophical minds that ever lived— Aristotle, Hume, Hobbes, and Nietzsche—Alice in Wonderland and Philosophy explores life’s ultimate questions through the eyes of perhaps the most endearing ...

Words: 70265 - Pages: 282

Premium Essay

Strategic Management

...MODERN MANAGEMENT APPROACHES TO CREATE VALUE MARKETING STRATEGIC MANAGEMENT Organizations will always end up somewhere…. “Cheshire Puss, …would you tell me, please, which way I ought to go from here?” “That depends a good deal on where you want to get to,” said the Cat. “I don’t much care where ----”said Alice. “Then it doesn’t matter much which way you go,” said the Cat. “---So long as I get somewhere,” Alice added as an explanation. “Oh, you’re sure to do that,” said the Cat. Lewis Carroll, Alice’s Adventures in Wonderland Strategic Management “Planning amid the chaos” •  Assessment •  Visioning and strategic thinking •  Hands-on, nitty-gritty planning Strategic Planning vs. Strategic Thinking Strategic Planning • Programming • Analysis • Rearranging categories • Calculating Strategic Thinking • New visions • Synthesis • Inventing new categories • Committing = Strategic Management Strategic Management Process • Situational Analysis ü Mission, vision, values, and objectives ü Situation Assessment ü External/Internal Environment • Strategy Formulation • Strategy Implementation • Strategy Evaluation & Control SWOT Analysis Skills & Abilities Funding & Resources Commitment Networks & Contacts Existing Activities Other Organizations Politics & Policy Trends & Forces Mobilizing for Action through Planning and Partnerships (MAPP) Five Types of Strategy 1.  Directional: What are our Mission, Vision, Values and Objectives?...

Words: 594 - Pages: 3

Premium Essay

Mythology

...super-powerful computer programs devoted to snuffing out Neo and the entire human rebellion. The telephone call initiated by Morpheus prompts the police to visit Mr. Anderson’s home with the offer of deliverance and the awakening. Morpheus is known to the government as a legendary computer hacker and a terrorist. Morpheus meets up with Mr. Anderson and offers him a choice of a blue pill or a red pill. The choice that is offered will afford Mr. Anderson to either wake up in a world beyond his imagination or to continue to exist in his current state existence. The “real world” * 2. Analysis of The conversation between Morpheus and Smith, The Battle between the humans and the machines. “Human beings are a disease, a cancer of this planet Cross cutting with Neo and Trinity trying to save Morpheus, testing Neo‟s powers and the length he will go to save Morpheus. * 3. Semiotic Analysis * 4. Semiotics and Structuralism• The war between man and machines.• Humans compared to a virus.• The five...

Words: 2560 - Pages: 11

Premium Essay

Archetypes In Pan's Labyrinth And Spirited Away

...has begun to place less value on physical strength, power, or gender, and more value on virtue and morality. Evidence of the increasing obsoleteness of the relevance of gender and power can be found in recent literature and film. Many of society’s collective Heroes are not only female (Princess Leia, Star Wars; Daenarys Targaryen, A Game of Thrones; Janie Crawford, Their Eyes Were Watching God), but children as well (Alice, Alice in Wonderland; Scout Finch, To Kill a Mockingbird; Katniss Everdeen, The Hunger Games). Even male Heroes have shifted from super-human to ordinary men (The Father, The Road; Winston Smith, 1984; Guy Montag, Fahrenheit 451). A single trait relates theses Heroes and every other Hero in literature—they have made considerable sacrifices in the face of adversity in order to accomplish a task more significant than their own trivial, everyday interests. However, all of these modern Heroes differ from their more ancient Hero counterparts: they are extremely ordinary. Campbell, Vogler, and Jung were, and still are, critical figureheads in the analysis of quest literature. Their explanations of literary archetypes are paramount in describing the similarities and differences of stories in various cultures and eras. The central archetype, according to these scholars, is the Hero; however, the societal idea of a Hero, at least in most developed Western societies, has become broader over time. No longer does the Hero archetype need to be a super-human male individual...

Words: 948 - Pages: 4

Free Essay

Exploring Twins; Towards a Social Analysis of Twinship.

...Exploring Twins; towards a Social Analysis of Twinship. STEWART, Elizabeth A.. EXPLORING TWINS; Towards a Social Analysis of Twinship. New York, NY: Global Publishing at St. Martin's Press, 2003, 221 pp., $26.95 softcover. This extremely dense and turgid book, written by a sociologist who gave birth to twins herself, is rich with metaphor and literary and biblical allusion. The author exams myths and explanations of twinning throughout time and across world cultures. She also looks at why there are so many persistent myths around twins and sees these myths as a way of explaining twinning. While some cultures see twinning in positive terms [divinity, fertility], many see the phenomenon in negative terms [infanticide of one or both twins, death of the mother, banishment of the family, exposure of the twins, starvation of one or both twins, death to girls and life to boy twins]. Stewart also discusses the importance of support groups, such as MELD, to help parents strategize and cope with raising multiples. Interestingly, the Yoruba of Nigeria have the highest twinning rates in the world. Stewart spends a lot of time noting the occurrence of twins in literature, from Shakespeare, Rogers and Hart, Mark Twain, and Alice in Wonderland. They also appear prominently in films such as The Dark Mirror, The Parent Trap, Dead Ringers and Twins. She points out that twins research is often used to deduce the impact of nature vs. nurture, the extent to which the environment plays...

Words: 732 - Pages: 3

Free Essay

Resume

...organization that strives for excellence and gives scope to apply skills to the best potential.  ASSETS:   An ardent worker with an open mind for improvisation. Belief in team work. Experienced in leadership.  Commitment and integrity.            EDUCATIONAL QUALIFICATIONS:   Professional: DEGREE | YEAR OF PASSING | INSTITUTE / UNIVERSITY | PERCENTAGE |       BMMBachelors of mass media.  |   2013 |  R.D. National, Bandra. | 65.56 | PROJECTS HANDLED: Project Title | Project Objective | 1.College events/festivals –Cutting Chai. | * Marketing and P.R | 2. Movie making – * Naughty Nutt * Commercial ad-for a product given to us forFast Track coming up withshoes * Anaya * Systemless * Remake of Alice in Wonderland. | * A short movie on ice age character made  by editing and merging clips from different movies. * Shot an ad by self-based on the story line and concept * Creative director for all 3 movies. | 3. Photography – * Cutting Chai * Zeitgiest( college fest) * Biltzkreig. | * Covered the 3 day long college festival. * Won 1st place. * Stood 2nd   | 4. Other projects- a) Times & tales of Radio mirchib) Bin it Rally c) Save Water Rallyd) Calender shoot for Rotaract Club.e)Sanskruti – fund raiser. f) Graphic designing for ‘Indulgence’ cake shop, Wadala.g) Jai Constructionh) Finplan (Financial Institute) | * Comic book for project. * Led the project. * Organised the rally. * Creative director...

Words: 674 - Pages: 3

Premium Essay

Alice in Wonderland

...Assignment 2: Alice In Wonderland 1. Comment on Emma’s different approach As a Managing Director of Luijk & Van Vaest in December 1995, a Dutch company in the parcel shipping business, she does not have experience in the shipping line. In the first day, she starts her presentation and wanted to build trust in her team. Her suggestion is to encourage people or employee to trust her. Besides, she has suggested some ways to build up trustee between each other. Walking The Talk Emma as a new Managing Director of L&VV, she plans to meet every level of staffs as many as she can, understand and listen to them, talk to them as well. Furthermore, she travelled around the country to all the local sub regions and talk with the management teams. She needs them to talk with her everything, what is the future of a company, what was wrong for the past and what should be changed. She work with parcel sorting personnel in the hubs and terminals to understand their needs and what is their comments on L&VV. Every time she has a regional meeting, she will walk around to the regional terminal before half an hour early and talk with the people on the shop floor. Since has many visiting, the people on the shop floor turned out to be very educational and practical. Feelings Are Facts Another of Emma’s early moves was Emma reshape her management team and needed to trust each other completely. Otherwise, Emma emphasizes the importance of a group as a real team in functioning...

Words: 2399 - Pages: 10

Free Essay

English Essay - My Little Bit of Country

...first person narrator through out the text. We met our main character Susan Cheever when she was very young. Her father has just returned home from the WW2. We are told by Susan that her family’s almost commonplace visits to Central Park Zoo and Central Park. Susan’s father started writing and because of the big success he had and the fact that they as parents wanted one more child, the family moved to the one of the suburbs of New York City. Susan was not very enamored of it, she loved to be in the enormous city, to skate on the ice rink and to visit the yak in Central Park Zoo. After they had moved, she eventually moved back the New York City and became an adult who raised her own kids, in the way that she wanted to be raised. In this analysis, we will focus on the writer’s use of contrast. We will also analyze the central- themes, which are explored in the text, and we will in the end put some comments on the title of the essay. In this paragraph, we will comment on the title. “My Little Bit of Country” was the title of the essay. The title was inspired by Andy Warhol, who Susan heard saying, that it was better to live in the city than in the country. On page 3, line 141-144, Susan wrote: “It was better to live in the city than the country because in the city he could find a bit of country, but in the country there was no little bit of city”. Susan strongly agree with Andy Warhol and she considered Central Park as her little bit of country, Central Park was where she...

Words: 996 - Pages: 4

Premium Essay

Sample Cover Letter - How You Can Get a Job

...Sample Cover Letters December 20, 2006 Ms. Elizabeth Novak Recruiting Coordinator PricewaterhouseCoopers Management Consulting 11 Madison Avenue, 18th Floor New York, NY 10010 Dear Ms. Novak: I had the pleasure of having lunch with Will Melson after the September 22nd Duke Corporate Presentation. I spoke with him again after the December 6th PricewaterhouseCoopers corporate visit where I learned even more about your firm. Mr. Melson’s compelling description of PwC couple with my desire to work in such a dynamic environment convinced me to apply for PricewaterhouseCoopers Analyst position. I sharpened my leadership and decision-making skills while supporting operations for an industrial supply company over three summers. The environment was fast-paced and intense, thus I was constantly analyzing data to determine the root causes of given problems. I would then identify and evaluate all possible alternatives before suggesting solutions. Most of these decisions had to be quick, concise and clearly conveyed to people at all organizational levels. As a result of my efforts, the company was able to save over $25K in material costs. During my tenure, I was often praised for thinking about problems innovatively and for never losing sight of the “big picture.” These skills will definitely aid me in consulting. At Duke, I continue to look for leadership opportunities within a team setting. In the Small Business Consulting Program, I currently lead a team of four classmates redesigning...

Words: 1605 - Pages: 7

Premium Essay

The Walt Disney Company & Comparison with the Time Warner Company

...The Walt Disney Company & Comparison with the Time Warner Company Cafer C. Sengonul California Intercontinental University 2015 Abstract Walt Disney (The Walt Disney Company) and Warner Bros (Time Warner Company) are the two major entertainment company in the world. These two similar rival groups are competing in the same business areas. Both companies keep producing new products to stay in the business while they keep their classics fresh in their customers' minds too by using them in different areas. This case study analysis is about the the Walt Disney Company and how they are using different business areas to keep their brand and products fresh in minds of their customers. The purpose of the study is to give examples of Disney and Warner Bros’ marketing strategies to compete to stay in the business. Keywords: Walt Disney, Warner Bros, Entertainment companies Overview In this case study, I will compare Disney with the Warner Bros. I will give information about the brands in similar business segments they are both in and their competition in the entertainment industry. I will give examples of the new and classic products from different business segments for the both companies and how they are using them for years. The Walt Disney Company & Comparison with the Time Warner Company The Walt Disney Company is one of the most famous entertainment company in the world today. The company consists of five main segments. Those segments are Consumer Products...

Words: 1259 - Pages: 6

Premium Essay

1970 Postal Strike

...Walter Elias and Roy Disney began the “Walt Disney” Company in 1922. The Walt Disney Company is a US based entertainment company that was founded in Los Angeles, California and its headquarters is located in Burbank, California. Disney was built thanks to the animation features and motion picture from Walt Disney Studios. The motion picture and films brought characters such as Mickey Mouse and Snow White and the seven dwarfs to life. These are the world’s first animated features that helped Disney become recognized in the family entertainment industry and gain brand recognition worldwide. Furthermore, The Walt Disney Company operates in five segments: 1) Media networks- they have a vast of properties on TV networks, TV productions, distribution operations, cable networks, radio networks and stations. Furthermore, The Company produces animated television programming under the ABC Studios, ABC Media Productions, and ABC Family Productions labels. It owns ten television stations, such as ESPN and the Disney Channel. 2) Theme parks and resorts- Disneyland, Disneyworld, Epcot, Hollywood Studios, Animal Kingdom. 3) Studio entertainment- Walt Disney pictures, Miramax films, Touchstone pictures, Hollywood Pictures, motion pictures and Disney nature. The Company distributes produced films in the theaters, and home entertainment. Kingdom, the Disney Vacation Club, the Disney Cruise Line, and Adventures by Disney. Moreover, The Studio Entertainment segment...

Words: 1594 - Pages: 7

Free Essay

Epidemiology of Mononucleosis

...Epidemiology of Mononucleosis Lori Lindner Grand Canyon University: 427V March 14, 2015 Epidemiology of Mononucleosis Infectious mononucleosis is a common clinical syndrome associated with Epstein-Barr virus (Singer-Leshinsky, 2012). Individuals infected with the Epstein-Barr virus can be asymptomatic or develop one of several infections which include infectious mononucleosis. A person with mononucleosis can be asymptomatic or symptomatic. Infectious mononucleosis is an acute and self limiting virus which is usually has no lasting side effects (Morris and Edmunds, 2002). However in some uncommon cases, infectious mononucleosis has caused neurologic and malignant complications (Marshall and Foxworth, 2012). Description of Mononucleosis Infectious mononucleosis, also known as the “kissing disease” is a highly infectious viral disease that most commonly occurs in adolescents and young adults in North America (Ilardi, 2009). Mononucleosis is transmitted by oral secretions and blood from one person to another. This is the reason for the nickname “kissing disease”. Symptoms of mononucleosis usually appear four to seven weeks after an individual has been infected. The symptoms include: constant fatigue, fever, sore throat, loss of appetite, swollen lymph nodes, headaches, sore muscles, swollen liver or spleen, skin rash and abdominal pain. Patients can present with all or a combination of these symptoms and the severity varies from no symptoms at all to debilitating...

Words: 1402 - Pages: 6