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Aspectos Sistêmicos Da Geoenergia No Contexto Do Planejamento Energético

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ASPECTOS SISTÊMICOS DA GEOENERGIA NO CONTEXTO DO PLANEJAMENTO ENERGÉTICO
Antonio Gomes dos Reis - Miguel Edgar Morales Udaeta - Luiz Cláudio Ribeiro Galvão - Flavio Marques Azevedo

RESUMO O objetivo deste artigo é demonstrar o funcionamento do Sistema de Análise Geoenergética (SAGe) dentro do Planejamento Integrado de Recursos (PIR), bem como a sua viabilidade no contexto da geoenergia humana. Nesse sentido, apresentar a metodologia de aplicação do SAGe no âmbito do PIR, enfatizando a interação entre o meio físico e o social, no que diz respeito aos serviços energéticos. Ainda, procura-se apresentar os resultados já obtidos com esta ferramenta, dentre os quais a produção de mapas temáticos associados à análise de recursos energéticos. Palavras-chave: Planejamento Integrado geoprocessamento, recursos energéticos. de Recursos, SAGe, geoenergia,

ABSTRACT This paper’s goal is to show how the SAGe works within the Integrated Energy Resources Planning (PIR), as well as its viability within the human geoenergy context. In this sense, another goal is presenting the SAGe’s application’s methodology, emphasizing the interaction between the environment and society, regarding the energy services. This paper also presents the results obtained with this tool – including the production of thematic maps – and the conclusions about its application on the PIR. Keywords: Integrated Energy Resources Planning, SAGe, geoenergy, GIS, energy resources.
GEPEA/EPUSP, tonicoreis@uol.com.br GEPEA/EPUSP, udaeta@pea.usp.br 3 GEPEA/EPUSP, claudio.galvao@poli.usp.br 4 GEPEA/EPUSP, azevedofm@pea.usp.br
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1. INTRODUÇÃO Os recursos naturais são de extrema importância para os seres humanos. Desde os primórdios, é através da natureza, e dos recursos que ela disponibiliza, que o Homem encontra seus meios de subsistência, possibilitando a sua sobrevivência assim como sua reprodução enquanto grupo social. O desenvolvimento técnico-econômico implica em gradativo aumento da demanda pelos recursos oferecidos pelo planeta, uma vez que estes são a base de todo o sistema produtivo, havendo a necessidade de uma racionalização e planejamento maiores no aproveitamento dos mesmos, já que muitos não são renováveis. No que diz respeito à produção de energia, o desenvolvimento técnico-econômico atingido nos coloca em uma posição de dependência cada vez maior [1]. Em todas as esferas da sociedade, seja na esfera doméstica, seja na produção ou circulação, o uso de energia é a força motriz que alimenta todo o desenvolvimento humano, estando presente na grande maioria dos objetos técnicos. Toda a produção de energia está associada à uma relação de apropriação de recursos da natureza por parte do homem. Por isso, torna-se necessário um planejamento da gestão, exploração, distribuição e aplicação dos recursos energéticos, que envolva os fatores social, político, econômico e ambiental, com o objetivo de se alcançar um benefício tanto para a economia, quanto para a sociedade e o meioambiente. Assim, para cada fonte de produção de energia, há diferentes variáveis que devem ser consideradas no seu uso. Dentro das premissas do Planejamento Integrado de Recursos (PIR), o planejamento energético deve englobar todas as dimensões e variáveis envolvidas na questão, sendo consideradas essenciais as seguintes: técnico-econômica, política, social e ambiental. Com o intuito de aperfeiçoar e enriquecer as pesquisas voltadas ao PIR, foi desenvolvida uma ferramenta de auxílio ao planejamento energético, chamada de Sistema de Análise Geoenergética (SAGe). O SAGe é constituído por um banco de dados contendo informações geográficas relevantes aos sistemas energéticos, de forma que, através de dados integrados com mapas e em conjunto com softwares de projeção de cenários e de tomada de decisões multicriteriais, pode-se obter a base estrutural para o planejamento energético voltado ao desenvolvimento sustentável. Uma das propostas desta ferramenta é promover análises a partir da interação entre o meio físico – no que diz respeito aos recursos energéticos – com o meio humano (representado pelos usos e fins dos serviços energéticos). A partir daí surge o conceito de geoenergia humana – baseado na inter-relação entre o mapeamento e a identificação dos recursos energéticos, juntamente com o uso de energia voltado para a satisfação das necessidades humanas. No ano de 2001, o Grupo de Energia do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da USP (GEPEA) e a Cooperativa do Pólo Hidroviário de Araçatuba (Cooperhidro) deram início à uma parceria visando desenvolver um modelo de aplicação de PIR na Região Administrativa de Araçatuba (RAA – segundo classificação do IBGE), situada no oeste do Estado de São Paulo. Diante dos fatos apresentados, o presente trabalho tem como foco apresentar o desenvolvimento de uma ferramenta de análise espacial de fenômenos relevantes ao planejamento energético em uma região, utilizando como massa de dados a aplicação do PIR na RAA (vinculado ao projeto FAPESP – Processo 03/06441-7). Portanto, serão apresentados os procedimentos e os resultados envolvendo a produção de mapas e análises espaciais no âmbito do SAGe, aplicado ao estudo de caso em questão.
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2. ELEMENTOS DO SISTEMA DE ANÁLISE GEOENERGÉTICA 2.1 Ferramentas de Apoio

O SAGe é um sistema de análise e processamento de dados, no qual o Sistema de Informação Geográfica (SIG) é uma ferramenta de apoio para a manipulação e visualização dos dados orientados ao planejamento energético e à tomada de decisão, através do geoprocessamento da informação. Para auxiliar nas análises e no planejamento, são usados alguns aplicativos proprietários: ArcGIS, Decision Lens e LEAP. Também, é de extrema importância a criação da Mina de Dados (termo utilizado para englobar todo o material levantado acerca da região de estudo, uma espécie de repositório de dados), bem como as visitas de campo, as quais possibilitaram a coleta de informações in loco, através da marcação de pontos de interesse e delimitação de áreas através do uso de GPS, enriquecendo as possibilidades de mapeamento. Observe a seguir na Figura 1 a apresentação da estrutura geral do SAGe, mostrando a integração dos mapas com a projeção de cenários e com a classificação das opções.

Figura 1: Estrutura da ferramenta de análise energética referenciada geograficamente (Fonte Própria) 2.1.1 ArcGIS

O geoprocessamento é realizado em meio digital por via de um software de SIG, tendo por finalidade última a produção e utilização de produtos, sejam eles mapas, cartas ou plantas que auxiliem e facilitem a compreensão do espaço geográfico. Desse modo, dependendo do estudo que se deseja realizar, um determinado software pode ser mais apropriado que outros [2 e 3]. No caso da pesquisa desenvolvida na RAA, todo mapeamento foi efetuado no ArcGIS, software que atende as necessidades relacionadas aos dados que se deseja representar. Através dele é possível a criação de um banco de dados contendo fenômenos relevantes ao planejamento energético (de ordem social, econômica, política ou ambiental), bem como a sua representação e distribuição no espaço. Pode-se dize que o ArcGIS apresenta três funções principais: apresentar dados em formas de mapas; facilitar análises geográficas e monitoramento em tempo real de variáveis críticas. Por ser utilizado no mapeamento de entes coletados no mundo físico, o ArcGIS é um software de extrema importância para o funcionamento do SAGe, uma vez que possibilita análises espaciais fundamentais para a aplicabilidade do PIR. Através dele, são depositadas as informações adquiridas ou coletadas, de modo a visualizar a distribuição espacial dos fenômenos estudados e as correlações entre estes, graças à sobreposição de dados. Com isso é possível georreferenciar as áreas ocupadas pelo cultivo da cana-de3

açúcar, por exemplo, sobrepostas à uma base cartográfica municipal de Araçatuba – indicando a proporção destas sobre a área do município. Ainda, pode-se selecionar em um mapa as áreas que apresentam intersecção de dados, de acordo com critérios préestabelecidos, facilitando-se, assim, as análises espaciais sobre a região de estudo. No que diz respeito ao monitoramento de variáveis críticas, esta é uma importante função do ArcGIS. No caso de uma rede de distribuição de energia, o programa pode indicar, no mapa, o corte de uma linha e os ramais que não se encontram energizados. Todas as informações presentes no banco de dados do ArcGIS se encontram em tabelas associadas a shapes, arquivos em um formato específico do software (.shp), de forma que cada um deles se constitui em uma camada de informação presente nos mapas, podendo ser representado por polígonos, linhas ou pontos. É devido aos shapes que é possível realizar a sobreposição e atualização de informações em um mesmo mapa, enriquecendo a análise a ser feita. Grande parte da criação de mapas temáticos tem como base dados municipalizados referentes à região desejada, de forma que, no uso do ArcGIS, a inclusão e acesso destes é fruto da conversão de planilhas de Excel para o formato Dbase (.dbf), compatível com o software de geoprocessamento. Sem isso, não é possível o acesso das tabelas através do ArcGIS e, ainda, a criação de shapes contendo todas as informações presentes nos bancos de dados e a junção deles com outro, já georreferenciado na projeção South American Datum 1969 (SAD69), e contendo todos os municípios que compõem aérea de estudo. 2.1.2 LEAP

Outro módulo da ferramenta de análise energética é o software de projeção de cenários energéticos, chamado LEAP. Este é um software concebido para construção e avaliação de cenários energéticos do ponto de vista econômico e ambiental, de forma que, em sua estrutura, podem-se inserir dados referentes à demanda de energia e aos recursos energéticos disponíveis, associados a custos e impactos ambientais [4]. Dentro das premissas do SAGe, o LEAP torna possível a troca de dados automática entre ele e o ArcGIS, viabilizando a realização de previsões baseadas em dados levantados e georreferenciados, para a geração posterior de mapas e de projeções de cenários. 2.1.3 Decision Lens

Este é um software de auxílio nas tomadas de decisões, hierarquizando os recursos energéticos de acordo com os objetivos desejados e critérios pré-estabelecidos. No âmbito do PIR, o Decision Lens é utilizado dentro da metodologia de Avaliação de Custos Completos (ACC) [5], sendo atrelado ao método de Análise Hierárquica de Processos (AHP), consagrado em diversas empresas e governos de países [6] [7] e [8] e responsável pela formulação das carteiras de opções energéticas. É impreterível destacar a importância deste software no processo de ACC, uma vez que no contexto do planejamento energético são consideradas diversas fontes energéticas e, para determinar qual o mais indicado para determinada situação, devem ser levadas em contas as mais diferentes variáveis. 2.1.4 GPS

Desenvolvido e controlado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América (U.S. DoD), permite a qualquer usuário saber a sua localização, velocidade e tempo durante
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24 horas por dia, sob quaisquer condições atmosféricas e em qualquer ponto do globo terrestre. No contexto do SAGe, o GPS é utilizado em viagens de campo à região de estudo para fazer o georreferenciamento dos recursos energéticos, sendo, assim, o ponto de partida para a elaboração de grande parte dos mapas elaborados ao longo do trabalho. Hoje em dia, este instrumento é muito requisitado nos serviços de mapeamento e geoprocessamento, servindo para a coleta de dados (coordenadas) de posicionamento dos diversos objetos a serem mapeados (analógicos ou digitais) – como, por exemplo: postes de redes elétricas, edificações em geral, limites de propriedades rurais, usinas etc. Seu uso está cada vez mais associado aos trabalhos que envolvem o SIG, por possibilitar o armazenamento dos dados e o seu posicionamento em softwares como o ArcGIS. 2.1.5 Mina de Dados

Dentro da ferramenta de análise energética, a base de dados é fundamental e complexa, pois reúne e centraliza os diversos dados concretos para a análise. Nesse sentido foi criada uma nova linha de pesquisa dentro do departamento, denominada Mina de Dados [9]. Esta tem como função auxiliar os pesquisadores e planejadores energéticos no armazenamento, organização e disponibilização de dados. Assim, o último módulo da ferramenta de análise energética referenciada geograficamente estava definido. No processo de expansão do sistema elétrico, tanto no que se refere ao aspecto técnicoeconômico, quanto aos aspectos socioambientais, observa-se a dificuldade do planejador energético em compilar informações para gerar alternativas – dificuldades que, em grande parte, estão atreladas à falta de informações específicas para uma dada região. Sob esse ponto de vista, decidiu-se dar um caráter geográfico às informações energéticas, sendo chamadas então de geoenergéticas, uma vez que o espaço é visto como o elemento centralizador do modelo. Na Mina de Dados estão todas as informações relevantes ao planejamento energético, levantadas ao longo do projeto, de forma que podem ser tanto imagens, cartas, quanto dados que estejam relacionados às dimensões social, política, técnico-econômica e ambiental. 3. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS DE APLICAÇÃO DO SAGE O desenvolvimento do SAGe está centrado na estruturação de um repositório de dados (planilhas) que contenha dados dos recursos energéticos da RAA e de mapas representativos do próprio repositório. Além disso, o repositório contém dados energéticos e geográficos que possuem relação com o setor de energia, envolvendo as informações nos âmbitos econômico, energéticos não elétricos, geográfico, populacional, institucional, agricultura, entre outros. Através do SIG, diversas análises podem ser realizadas a partir dos dados e mapas inseridos. É possível a criação de mapas temáticos utilizando os diversos bancos de dados, calcular distâncias entre pontos e sobrepor informações – isto tudo sempre referenciado às questões energéticas. Além disso, o geoprocessamento, por ser realizado em meio digital, possibilita também a constante atualização dos dados arquivados que, por sua vez, permitirão novas análises geoespaciais. O mapeamento é um elemento fundamental, uma vez que resulta na compreensão geográfica de fenômenos de diferentes ordens espaciais e, ainda, uma análise integrada
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destes voltadas para uma aplicação eficiente e coerente do PIR. Neste sentido, a percepção em termos qualitativos do espaço da região de estudo, através do mapeamento de elementos como atividades agrícolas, gasodutos na região, população urbana e população rural, índices de riqueza, usinas, características ambientais – entre outras –, juntamente com dados quantitativos vinculados aos mapas, são imprescindíveis para a implantação imediata do SAGe. 2.1 Aquisição de dados para o Geoprocessamento

A primeira etapa envolvendo o desenvolvimento do SAGe é o levantamento de dados existentes sobre a área estudada, de modo a favorecer análises prévias relacionadas ao planejamento energético. Assim, é fundamental a aquisição da base cartográfica da região de estudo, bem como a busca por dados sobre topografia, relevo, cobertura do solo, vegetação, ocupação urbana, fontes energéticas etc. A partir disso, é possível determinar pontos prioritários de visita para a atividade de coleta de dados. A aquisição de mapas implica em contatos com diversos institutos que disponibilizam cartas, entre os quais: INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), IGC (Instituto Geográfico Cartográfico) e DER (Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo). Em seguida, é feita a conversão desses mapas para um formato compatível com o software de geoprocessamento. Outra ferramenta utilizada como fonte de informações para esta etapa do trabalho é a aquisição de imagens de satélite. Através do sensoriamento remoto, é possível obter imagens de satélites de alta resolução que revelam muitas informações sobre a topografia, vegetação e ocupação urbana da região. Já com a fotogrametria, obtém-se medidas seguras e precisas do terreno estudado a partir do estudo das fotografias aéreas, bem como a disposição das residências urbanas e da população, da agricultura, dos recursos naturais e da natureza de um modo geral, principalmente a partir da fotointerpretação. 3.2 Viagens de Campo e Marcação de Pontos de Interesse

As visitas de campo são fundamentais no processo de análise geoenergética, uma vez que possibilitam a realização de uma caracterização geral da área de estudo, através do mapeamento e observação da distribuição das atividades socioeconômicas e populacionais do local, e, ainda, das facilidades e dificuldades relacionadas ao sistema de transporte local para escoamento dos recursos. Da mesma forma, este trabalho possibilita o enriquecimento da Mina de Dados com informações complementares levantadas em campo. Neste sentido, o foco principal dessa etapa é a identificação e marcação de pontos de interesse através do uso de GPS, dando início à caracterização geoenergética da área – pautada na análise dos aspectos sociais, políticos, ambientais e técnico-econômicos envolvidos no planejamento. Também, como ferramentas complementares, podem ser feitos registros fotográficos, com o intuito de enriquecer as análises feitas. Os pontos de interesse levantados são constituídos por elementos considerados relevantes ao levantamento geoenergético – relacionados à oferta e demanda de energia –, como por exemplo: usinas sucro-alcooleiras; hidrelétricas; estabelecimentos industriais que apresentassem grande relevância na economia regional (consumidores e produtores – potenciais ou de fato – de energia); instituições de ensino ou de saúde referenciais dos municípios; pontos de comércio relevantes; e prédios públicos administrativos.

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É importante ressaltar que o levantamento técnico realizado em parte do Oeste Paulista, além de compreender os municípios pertencentes à RAA, consideram também os municípios das imediações da RAA que sofrem influência direta da Cooperhidro, conforme mostrado na Figura 2. Deste modo, a caracterização geoenergética desenvolvida – e apresentada neste trabalho – leva em consideração estes municípios, como é possível observar no mapa a seguir.

Figura 2: Área de Estudo (Fonte Própria) 4. PROCEDIMENTOS E PARTES COMPOSICIONAIS DO SAGe Entre os resultados obtidos através do mapeamento para o SAGe, cabe destacar: a criação de hiperlinks relacionando os pontos de interesse, marcados a partir das viagem de campo, com informações descritivas acerca deles; e, ainda, o mapeamento de dados relacionados às dimensões política, técnico-econômica, social e ambiental, resultando na produção de diversos mapas temáticos. 4.1 Criação de hiperlinks

Essa etapa do trabalho se baseia na produção de um mapa que abrangesse toda a região de estudo – no caso, não só a RAA, mas também a região de influência da Cooperhidro. Com isso, cada ponto georreferenciado está vinculado, através de um hiperlink, a arquivos em formato Word (.doc) que contém descrições, levantadas em etapas anteriores, de cada localidade mapeada. A criação de hiperlinks é um dispositivo presente no ArcGIS que permite a ligação de um ponto georreferenciado com arquivos externos de diversos formatos (word, excel, jpeg, etc.) ou mesmo com sites da internet. Assim, cria-se uma interface entre o (SIG), vinculado ao meio físico e ao espaço geográfico, e a funcionalidade dos pontos de interesse dentro do âmbito dos sistemas energéticos. Essa ferramenta é de extrema utilidade ao SAGe ao incrementar os mapas produzido, com informações que não são mapeáveis, mas que estão relacionadas aos pontos georreferenciados. Entre os pontos incluídos no mapa estão diversos possíveis envolvidos e interessados em empreendimentos energéticos na região, sendo que boa parte deles é georreferenciada através de marcações com GPS em campo. Com isso, foram criados hiperlinks envolvendo os seguintes elementos: usinas hidrelétricas e sucro-alcooleiras, estradas, instituições de ensino e /ou pesquisa, empresas de diversos ramos, instituições governamentais, supermercados, hospitais, postos de gasolina, sindicatos, aterro sanitário, polícia florestal, aeroporto municipal, entre outros.
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4.2 Produção de Mapas Temáticos A produção dos mapas temáticos tem como base os dados municipalizados levantados no Inventário Ambiental e que compõem a Mina de Dados – e, neste caso, faz parte dos resultados apresentados dentro do projeto FAPESP (Processo 03/06441-7). Os mapas são baseados em elementos voltados para as quatro dimensões dos recursos energéticos locais (ambiental, social, técnico-econômica e política) e ao mapeamento ambiental voltado para o PIR (meios aquático, aéreo, terrestre e antrópico), além de dados de consumo de energia e projeções de cenários futuros. É importante lembrar que a criação de cenários de previsão de demanda e oferta são elementos fundamentais que dão apoio ao planejamento energético. Um dos objetivos deste mapeamento é o cruzamento de informações de diferentes ordens, visando estabelecer inter-relações entre os fenômenos mapeados – uma das principais ferramentas do SIG. Neste contexto, são relevantes ao SAGe mapas temáticos referentes às quatro dimensões de análise propostas no PIR, bem como informações adicionais que enriqueçam o espectro analítico do planejador. 4.2.1 Dados Sociais Esta categoria apresenta cruzamentos de variáveis relacionadas a dados sociais, sendo apresentadas em diversos mapas informações relacionadas ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), crescimento populacional, densidade demográfica, distribuição da população nos setores urbano e rural, população absoluta e número de unidades de atenção básica de saúde, conforme mostrado na Figura 3, a seguir.

Figura 3: População Rural (2005) e Índice de Riqueza (2004) Fonte: SEADE – Elaboração: Própria No que diz respeito aos fenômenos de ordem social, é possível estabelecer relações entre o IDH e elementos demográficos de uma região. No caso da RAA, por exemplo, os municípios que possuem maior IDH e, portanto maior qualidade de vida, apresentam maior densidade demográfica e população absoluta, além de menor proporção de população rural. Da mesma forma, constatou-se que os mesmos municípios, com índices altos de população rural, possuem menor quantidade de unidades de atenção básica de saúde, de modo que, onde maior o fenômeno urbano, melhor os serviços de saúde. Esse fato não é surpreendente, visto que o IDH está relacionado com indicadores de saúde e educação, logo, onde ele é mais baixo, piores são os índices de saúde e de escolaridade. A alta incidência da população rural em alguns municípios pode indicar que estes podem ser menos urbanizados e, com isso, tendo uma atividade industrial pequena ou inexistente.
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Neste sentido, vale ressaltar que o grau de industrialização e urbanização de um país, região ou cidade, pode ser considerado um indicador de desenvolvimento econômico local, já que o mesmo está associado à atividade industrial e ao setor terciário da economia. Esta relação fica ainda mais evidente com a sobreposição de dados econômicos e sociais, onde se percebe que os municípios onde há maior população rural são mais pobres. 4.2.2 Dados Econômicos

Esta categoria tem associação com os dados que compõem a dimensão econômica do planejamento energético. Para isso, estão presentes nos mapas dados levantados acerca da área plantada de cana na RAA, bem como produção de álcool, índice de riqueza, área de pastagem e valor adicionado na indústria. O mapa a seguir, representado na Figura 4, é um dos muitos produzidos ao longo do trabalho.

Figura 4: Índice de Riqueza (IPRS 2004) e Produção de Cana (2005) na RA Araçatuba Fonte: SEADE e IEA/CATI – Elaboração: Própria Analisando os dados econômicos, é possível associar fenômenos, como o crescimento da produção de álcool na RAA ao aumento da área plantada de cana – o que não é surpreendente, visto que o álcool é um subproduto da produção de cana. Da mesma forma, a sobreposição de dados possibilitou constar que o aumento das áreas de cana resultou na diminuição de pastagens. Com isso, é passível de constatação que conforme se aumenta a produção de determinada atividade agrícola – no caso, produção de cana –, ela ocupa um território que anteriormente era destinado à outra função. A análise de mapas também possibilita identificar as áreas de maior e menor produção de riquezas em uma região e, ainda, associar a riqueza econômica a algumas atividades econômicas específicas. No caso da RAA, foi possível estabelecer uma relação direta entre a produção de riquezas e o setor canavieiro – tanto no que tange à indústria, quanto à agricultura. 4.2.3 Dados Energéticos

Esta seção se refere aos dados de consumo energético e elétrico na região, bem como às previsões voltadas para consumo futuro. Esses dados foram sobrepostos a informações sociais e econômicas, de forma a enriquecer e ampliar a análise geoenergética – como, por exemplo, de IDH, PIB e produção de cana, de acordo com a Figura 5.

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Figura 5: Consumo de Energia Elétrica (MWh) na RA de Araçatuba em 2002 Fonte: SEADE – Elaboração: Própria

A produção dos mapas referentes a consumo energético – e não apenas elétrico – resulta em análises que permitem o estabelecimento de relações com aspectos econômicos e sociais da região estudada. Assim, do mesmo jeito que se observou o aumento da produção de álcool e da área de plantação de cana na região – juntamente com a redução das pastagens –, houve, no mesmo período, um crescimento razoável do consumo elétrico e de energéticos na RAA. Da mesma forma, constatou-se que, de modo geral, o consumo elétrico é bem maior nas áreas urbanas (mais populosas e povoadas) e onde o IDH é maior. Ainda mais relevante, é a relação direta entre consumo elétrico e energético com o PIB nos municípios, de modo que o desenvolvimento econômico está relacionado com um maior consumo energético. 4.2.4 Emissões

Por último, constam no mapeamento dados relacionados a emissões de gases, sendo que alguns deles podem ser emitidos por práticas relacionadas à produção de energia. Esses mapas se vinculam com a dimensão ambiental do PIR. As emissões de CH4 foram encontradas a partir do número de bovinos e, com isso, estão associadas às áreas de pastagem. Ao analisar os mapas, percebe-se que, no período que abrange os anos 2000 a 2008, houve redução das emissões deste gás. Esse fato ocorre simultaneamente à expansão da cultura de cana e a consequente diminuição da área de pastagem. Da mesma forma, os municípios localizados mais ao oeste da região são aqueles que mais emitiram CH4 no intervalo de tempo representado e, também, aqueles com maior área de pastagem. No mesmo intervalo de tempo, as emissões de N2O na região também cresceram, de forma que elas estão diretamente associadas às culturas agrícolas em cada município – principalmente cana e pastagem (número de bovinos). Dessa forma, devido à rápida expansão das áreas cultivadas de cana (essa relação fica evidente ao observar a figura 6, logo a seguir), diversos municípios passaram a emitir mais N2O com o tempo: em 2000, 16 municípios emitiram mais de 100 Gg de N2O; já em 2008, o número subiu para 33. Ainda, constata-se que a região central da RAA é a maior emissora desse gás, justamente devido à concentração do cultivo de cana nessa área, conforme pode ser observado na Figura 6.

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Figura 6: Área de Cana e Emissão de N2O na RA Araçatuba (2000-2008) Fonte: IEA e Própria – Elaboração: Própria No que diz respeito às emissões de CO2, houve um aumento no período entre os anos 2000 e 2008. Porém, deve ser destacado que as informações coletadas e mapeadas se referem apenas à queima de combustível / consumo energético, desconsiderando-se a produção de álcool nas usinas. Por último, cabe destacar que há uma grande disparidade de emissão entre os municípios, de forma que o planejamento energético nessa região deve considerar este tipo de informações. 5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o presente trabalho, é mostrada a importância do Sistema de Análise Geonenergética no PIR, como uma ferramenta de levantamento e análise de dados relevantes ao planejamento energético, articulando-os com o espaço onde se encontram e onde são aplicadas as ações, de modo a obter-se uma melhor caracterização da área de estudo. Nesse contexto, a exploração e a aplicação adequada dos recursos são fundamentais para um desenvolvimento equilibrado, devendo levar em conta os aspectos sociais, ambientais, técnico-econômicos e políticos envolvidos no processo. A distribuição destes recursos é igualmente importante, com o intuito de buscar um desenvolvimento que acabe com as desigualdades regionais, formando um espaço harmônico e promovendo uma consciência social – não só em torno da questão energética, mas, também, em relação à gestão dos recursos naturais (de importância ímpar para a humanidade). No que diz respeito à produção de energia, além de obtê-la de forma mais limpa possível, é necessário saber as finalidades para que é usada, uma vez que, o seu uso envolve, também, uma responsabilidade social e ambiental. Também é passível de observação a contribuição do geoprocessamento referente ao planejamento energético e à efetiva implantação do PIR em Araçatuba. A maior vantagem oferecida na utilização desta ferramenta para a pesquisa é, provavelmente, representada pelas inúmeras possibilidades de análise que viabilizam a aplicação do PIR no espaço desejado, através da reunião e posterior utilização dos dados geográficos, espacializados com outros elementos da pesquisa. Neste trabalho pioneiro, foram criados mapas com informações de diversas ordens – desde aspectos demográficos, como, também, econômicos e ambientais –, sendo de grande utilidade a sobreposição de dados de diferentes variáveis. Esta metodologia é aplicável a outras situações e realidades do território brasileiro, sendo uma ferramenta de planejamento indispensável para os serviços energéticos. Esta etapa do SAGe é de fundamental importância para a análise geoenergética, pois possibilita uma melhor compreensão dos fenômenos sociais, econômicos e ambientais de
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uma área e, com isso, um planejamento energético coerente com as premissas do PIR. Da mesma forma, ela deve ser analisada levando em conta a sua complementaridade com as etapas seguintes envolvendo o SAGe (criação de cenários e tomada de decisões). Por último, deve ser ressaltado que o uso desta ferramenta implica na necessidade de um financiamento que possibilite a criação de um amplo inventário (com dados atualizados) acerca da área de estudo – quanto a maior a quantidade e variedade dos dados, mais refinadas serão as análises. Neste contexto, deve ser ressaltado que o trabalho foi feito com base no financiamento obtido através do projeto FAPESP No 03/06441-7 e nas possibilidades relacionadas ao mesmo. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a FAPESP pelo apoio com base no projeto FAPESP No 03/06441-7, ao IEE e a EPUSP pelo apoio Logístico na realização dos trabalho no interior de São Paulo, a COOPERHIDRO pelo apoio in loco na RAA/SP, a CAPES, CNPq e PEA/EPUSP pelo apoio com Bolsas de estudo (ME, DO e IC) concedidas aos pesquisadores do Grupo de Pesquisa. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS D’ALGE, J.C.L. Introdução à Ciência da Geoinformação. Cap 6 “Cartografia para geoprocessamento”, 2002. AZEVEDO, T.R. “PIR e a implementação do LEAP”, relatório de estágio, PEA EPUSP, 1999. BURROUGH, P.A. Principles of Geografical Information Systems for Land Resources Assessment. Oxford: Oxford University Press, 1992. LEITE, F.C. “Modelo para informações e dados de caráter energético do Oeste Paulista”, Projeto de formatura, PEA/EPUSP, 2004. LISBOA, M.V.; “Contribuição para tomada de decisão na classificação e seleção de alternativas de traçado para rodovias em trechos urbanizados.”, Dissertação de mestrado apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. MORITA, H; “Revisão do método de análise hierárquica – MAP (AHP – analytic hierarchy process)”, Dissertação de mestrado apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998. SAATY, T.L. “The analytic hierarchy process: planning, priority setting resource allocation.” New York; London: McGraw-Hill, 1980. SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. São Paulo, Edusp (4ª edição), 2008. UDAETA, M. E. M.. Planejamento Integrado de Recursos Energéticos para o Setor Elétrico – PIR (Pensando o Desenvolvimento Sustentável). São Paulo, Epusp, tese de doutorado, 1997.

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